Blog do Oldon
Notas e impressões sem compromisso, mas com responsa
domingo, 24 de novembro de 2019
terça-feira, 12 de fevereiro de 2019
Ricardo Boechat (1952-2019)
A palavra “âncora”, no universo do jornalismo, significa a função do apresentador com LIBERDADE e CAPACIDADE de analisar criticamente um determinado fato noticioso, além de apenas reportá-lo ao público.
Ricardo Boechat era um ÂNCORA com letras maiúsculas.
Além da liberdade e da capacidade de análise, ele tinha a CORAGEM para dizer aquilo que muitos pensam, mas não dizem num microfone de rádio ou pra uma câmera de televisão.
Ricardo Boechat era um ÂNCORA com letras maiúsculas.
Além da liberdade e da capacidade de análise, ele tinha a CORAGEM para dizer aquilo que muitos pensam, mas não dizem num microfone de rádio ou pra uma câmera de televisão.
Esse fará muita falta.
Descanse em paz.
🙏🏼❤️🙌🏼
#RipRicardoBoechat
sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019
Rescaldo da tragédia
Na esteira de tragédias como a que vitimou 10 garotos hoje no Ninho do Urubu, é natural que a opinião pública busque culpados no primeiro momento. A função da imprensa, nesta hora, passa por levantar informações que municiem autoridades na condução de investigações e inquéritos.
Vale observar que o Flamengo, nos últimos anos, é dos clubes brasileiros que mais investem em categorias de base dentro do futebol. Seja na formação dos atletas, provendo aulas dentro do CT, seja na criação de uma infraestrutura física. Se houve negligência, que punam os culpados.
Ao contrário do que o Ministério Público afirmou numa nota enviesada, a infraestrutura física que a base do Flamengo ocupava, mesmo provisória, estava muito acima do que a grande maioria dos clubes brasileiros oferecem a essa categoria. Não havia luxo, mas todos tinham dignidade.
A perspectiva é que, dentro de uma semana, TODAS as categorias de base do futebol já estivessem instaladas num dos dois novos módulos do CT do Clube. Finalizado em 2016, este módulo custou ao clube R$ 16 milhões e serviu, até o ano passado, aos atletas profissionais do Flamengo.
Do ponto de vista da Comunicação e das áreas Jurídica e Institucional, é fundamental que o Flamengo esteja preparado para enfrentar e responder adequadamente a todas as questões que forem colocadas nas investigações do poder público. Com transparência, celeridade e pró-atividade.
A tragédia humana já consumada joga luz, agora, às reais condições a que atletas de base são submetidos no futebol brasileiro. Isso é benéfico para todos, pois levantará situações de precariedade nas quais muitos desses jovens vivem na luta por uma janela de oportunidade na vida.
Força, muita força, às famílias e às vítimas.
#LutoCRF
domingo, 20 de janeiro de 2019
Um mês
Ontem fez um mês desde que retornei não apenas ao trabalho, mas à vida normal, após onze meses de completo afastamento para o tratamento de uma doença.
A sensação de retorno pós-vitória, como comentei alguns dias atrás, está sendo como a de um recomeço de carreira, de uma redescoberta dos prazeres no ofício e em várias outras coisas do dia a dia.
O simples e prosaico ato de andar nas ruas e ver pessoas para um compromisso profissional ganhou cores diferentes para mim hoje em dia.
O fato de ter atravessado física e espiritualmente uma jornada intensa de luta pela vida me fez naturalmente querer, em tudo, mais e melhor – trabalhar, produzir, conquistar, se relacionar, conhecer, viver.
A lente de enxergar o mundo e a vida muda, e a partir daí tudo muda junto.
A gente passa a ver que os “grandes problemas” de outrora não eram tão grandes assim, e que os “pequenos prazeres” do cotidiano podem conter em si um grande valor agregado. Você se purifica, rejuvenesce e ganha mais habilidade e sabedoria para encarar desafios e enfrentar os percalços.
Não, não se trata de um processo de santificação em vida – a gente continua essencialmente humano, e com isso segue errando, aprendendo, acertando, aprendendo de novo, errando e acertando novamente...
A chave da mudança, vejo agora, está em como encarar as coisas e os acontecimentos do dia a dia, dando o devido peso a cada uma delas e aceitando de bom grado o que a vida lhe oferece e proporciona, seja no trabalho ou em casa.
Além de tornar a caminhada mais leve e mais bonita, mesmo em momentos de dificuldades, isso contribui para uma vida verdadeiramente mais saudável, afastando negatividades que levam a tantas coisas ruins.
“Mens sana in corpore sano”, já dizia o poeta.
quarta-feira, 21 de novembro de 2018
Bohemian Rhapsody
Tolice resenhar a cinebiografia de Freddie Mercury a partir de anacronismos episódicos ou limpadas de barra na vida-louca-vida de um rockstar que mergulhou no limite (mesmo) em tudo o que pode, com quem quis. O filme, acima de qualquer coisa, tem o espírito familiar de uma sessão da tarde pra curtir com pipoca e fazer chorar nos números musicais irretocáveis – o final é apoteose pura. Acaba que importa rigorosamente nada a versão no sex and low drugs retratada do maior frontman da história do pop rock. O personagem gigantesco, maior que a sua banda e seus próprios hits, está devidamente representado na tela para as velhas e as novas gerações. Filmaço.
sábado, 17 de novembro de 2018
Um ano
365 dias, algumas horas, muitos minutos, tantos e tantos segundos...
No dia 17 de novembro de 2017, um novo capítulo se abriu no meu livro. Tudo o que se fala sobre “rito de passagem”, “divisor de águas”... Foi o que se passou comigo em um consultório ortopédico naquela sexta-feira ensolarada, quando entrei levando uma ressonância de uma possível inflamação no menisco e saí com o diagnóstico de uma lesão tumoral. Atrás do receituário, duas linhas curtas: “Oncologistas Associados / (21) xxxx-xxxx”.
Um aperto de mão um tanto sem jeito do médico e um recado: “ligue agora e marque com urgência já para segunda-feira, depois me dê notícias”. E aí você fecha a porta da ante-sala, se põe estático no meio de um corredor de escritórios escuro e enorme e se dá conta que toda a sua vida vivida até 15 minutos atrás já não existe mais como era antes. Surgem o pavor, o medo, os fantasmas e as lágrimas, muitas lágrimas. Dali pra frente era a certeza de que uma nova fase estava começando, sob um clima nebuloso de várias incertezas. Cadê o chão que estava aqui?
O que se passou nas semanas seguintes foi um filme de terror diário e silencioso, misturando negação da realidade, auto-negligência e um corte brusco em qualquer tipo de perspectiva a curto prazo. Planos? Como? Para que? Até quando?
Curiosamente, esse clima nefasto começou a virar justamente numa sexta-feira de carnaval, data que ao longo da vida me proporcionou incontáveis alegrias e celebrações. Neste ano, porém, ao dar entrada no hospital para internação já de posse do diagnóstico preciso – e padecendo dos sintomas da doença –, era o sentimento de esperança que dava as caras pela primeira vez desde que tudo começou. Finalmente estava começando o meu tratamento.
A partir daí a cabeça muda o rumo da prosa, o espírito se regenera de fé e encorajamento e as coisas começam a acontecer. O milagre do poder da crença se fez presente ao longo dos meses de tratamento intensivo que se seguiram, incluindo seis ciclos de quimioterapia com internações de uma semana cada – um total de 576 horas de bolsa vermelha na veia! – e, posteriormente, um mês de radioterapia. Pesado, né? Sem dúvida, mas a força positiva do lado de cá foi maior, muito maior.
Amparado pelas pessoas fundamentais da vida durante toda a jornada, além de escoltado por um Deus amigo e misericordioso, a gente acaba descobrindo forças (físicas e principalmente mentais) que jamais imaginou ser capaz de ter. Esse é um dos muitos legados que ficam: saímos não apenas mais cascudos de um processo como esse, mas mais conhecedores de nós mesmos. Existe hoje um Oldon no mundo que em muitos aspectos eu mesmo não reconheceria tempos atrás. Muito mais corajoso, muito menos apegado a coisas, bastante renovado espiritualmente.
Uma semana depois daquela consulta ao ortopedia, que hoje faz um ano, eu vim ao Santuário de Aparecida pela primeira vez para clamar por ajuda, pela maior de todas as graças que me pudesse ser concedida. Vim em silêncio, sem avisar a ninguém sobre o que já se passava na minha vida. Pois hoje eu volto fundamentalmente para agradecer, por tudo. Pelo livramento, pelas oportunidades concedidas, pela fé inabalável que me move desde que me entendo por gente, pela família abençoada que me dá suporte e apoio em todos os momentos, pelo Deus bom e generoso que em mim habita.
Agradecer. Apenas agradecer, hoje e sempre.
E vida que segue!
*******
Agradeço a Deus, à Virgem Maria, à Nossa Senhora Aparecida, ao meu Santo Expedito.
À minha amada mãe Maria José, à minha esposa Priscilla, ao meu filho Theo, à minha irmã Polyanna, aos meus sobrinhos Lucas e Valentina, à minha sogra Mary, aos meus familiares, aos meus amigos e às minhas amigas.
Em memória de meu pai Agnaldo e de meu sogro Célio.
Amém
🙏🏼❤️🙌🏼
segunda-feira, 3 de setembro de 2018
Museu Nacional (1818-2018)
A perda do Museu Nacional é irreparável, incalculável e inestimável para um país com tão pouco apreço por memória, história e ciência. A completa devastação em chamas do acervo de 20 milhões de itens – o maior e mais rico do continente – jamais poderá ser reposta, não só pela diversidade de peças, mas especialmente pelo seu vasto conteúdo histórico, cujo valor não pode ser dimensionado em cifras. De esqueletos completos de répteis e outros animais pré-históricos ao fóssil do humano mais antigo já localizado em solo brasileiro, o Museu Nacional completava ainda extenso material astrofísico, como meteoritos; coleções de civilizações antigas, como múmias egípcias; e parte importante da história do período imperial do Brasil, como documentos e artefatos. Uma reunião de riquezas imensuráveis que já não estão mais entre nós. A tristeza pela catástrofe, entretanto, logo se transforma em indignação quando se observa o descaso ao qual a instituição foi submetida ao longo de muitas décadas, resultando em recursos escassos, na precarização da infraestrutura e no tratamento indiferente por parte do poder público. Nem mesmo os parcos R$ 600 mil anuais para a manutenção básica do palácio situado na Quinta da Boa Vista vinham sendo repassados na sua integralidade, dado os cortes cada vez mais severos no orçamento federal, ano após ano. Fruto disso, apenas uma parte ínfima do gigantesco e precioso acervo ali reunido estava aberto à visitação pública. Engano imaginar que apenas o fogo foi capaz de destruir 200 anos de história. O descaso e a omissão constantes de governos e governantes, por décadas a fio, são tão ou mais responsáveis que as poucas horas de um incêndio devastador. Havia a expectativa que um investimento emergencial na casa dos R$ 21 milhões, a serem repassados pelo BNDES, pudesse impedir o que, aos olhos de quem trabalhava diariamente nas instalações, se avizinhava como uma tragédia prestes a acontecer. Não deu tempo. Diante das cinzas do que já é ruína, agora fica tarde demais para que as autoridades lamentem a destruição de um marco da cultura nacional. Esse triste papel cabe apenas e tão somente à população órfã, e em particular aos vários servidores que dedicaram uma vida de trabalho ao Museu Nacional. Meus sentimentos.
sexta-feira, 6 de julho de 2018
O pragmatismo parou nos belgas
No saldo final da participação brasileira na Copa do Mundo da Rússia ficam muitos questionamentos em torno dos erros capitais da derrota fatal em Kazan contra a Bélgica. Do outro lado, algumas poucas certezas – a principal delas é a de que Neymar, maior craque do time e da sua geração, sai do Mundial menor do que entrou, tanto pelo futebol meia-boca quanto pelas polêmicas em série. No conjunto dos cinco jogos disputados (três vitórias, um empate e uma derrota; oito gols a favor e dois contra), e considerando o desempenho em alto nível que a equipe apresentou num passado recente, a participação do Brasil na Copa de 2018 soa discreta e limitada.
Tecnicamente o time foi correto – embora jamais brilhante – apenas nos noventa minutos contra a Sérvia e no segundo tempo frente ao México. Por outro lado, se viu um Brasil que capengou contra a Suíça, que conquistou uma vitória na base do abafa – já nos acréscimos – contra a fraquíssima Costa Rica, que tomou sufoco em metade do jogo contra os mexicanos e que foi eliminado incontestavelmente quando pegou pela frente um oponente de qualidade. Contra a Bélgica, o primeiro e mais importante ponto a se ressaltar é a contribuição das atuações ruins de Neymar, Coutinho, Willian e Fernandinho para a derrota. Figuras que, num bom dia, poderiam fazer a diferença a favor.
Além de componentes do jogo para a derrota, há também um aspecto decisivo para o fracasso da seleção brasileira: Tite sentiu o peso da Copa do Mundo. Talvez pela inexperiência, possivelmente pelo excesso de pragmatismo, o treinador levou ao fim e ao cabo uma filosofia de pontos corridos para um torneio de tiro curto, onde as necessidades de adaptação aos fatos são prementes e não podem se submeter a caprichos ou teimosias. O técnico e sua equipe se trancaram num ideário pouco afeito a mudança de planos de acordo com as circunstâncias. Numa competição com no máximo um mês de duração, esse cabresto ideológico se mostrou fatal.
O exemplo mais evidente dessa visão limítrofe passa pela injustificável manutenção de Gabriel Jesus como titular até o quinto jogo, algo incompreensível sob qualquer aspecto – inclusive o da tal “função tática” usada como explicação para mantê-lo entre os onze eleitos. “Roberto Firmino está pedindo passagem” foi frase corrente na boca de analistas e torcedores durante toda a Copa, dada a ótima fase vivida pelo atacante do Liverpool. Por que não dar uma chance a uma alteração óbvia, clara, levando-se em conta a inoperância de um centroavante titular que não faz gols? A pergunta vai ficar por muito tempo, talvez sem nenhuma resposta convincente.
Por outro lado, se viu nessa jornada russa pouca ou quase nenhuma variação do esquema de jogo em função do adversário a se enfrentar. Era previsível que o contra-ataque belga, puxado por jogadores do calibre de Hazard, De Bruyne e Lukaku, traria muitas dificuldades para o sistema defensivo, ainda mais com a ausência de Casemiro como cão de guarda à frente da zaga. Não seria o caso de fechar mais o meio com dois volantes de contenção (Fernandinho e Fred) ao invés de manter a mesma configuração super-ofensiva com Willian, Coutinho, Neymar e Jesus, além de um Paulinho sem poder de marcação, flutuando perdido no meio?
A eliminação brasileira nas quartas de final é decepcionante muito em função da expectativa criada com o trabalho desenvolvido pelo treinador desde que assumiu uma seleção em frangalhos, sem apoio da torcida, sem moral depois do 7x1 e sem traço algum de bom futebol. Os méritos inegáveis apresentados por Tite durante as Eliminatórias, montando um time competitivo e eficiente, eram aguardados com alta expectativa justamente no filé mignon desse ciclo. O que se viu na Rússia, entretanto, foi um Brasil de atuações bem abaixo do esperado, sem alternativas táticas, com desempenhos técnicos (coletivo e individuais) aquém do previsto e um modelo de jogo estanque, preso a uma ideia única, fixa.
Para o professor Adenor Bachi, que se auto-designa um “gestor de pessoas dentro do universo do futebol”, fica a lição amarga da perda de um Mundial de grandes surpresas para as camisas gigantes. Isso, claro, no caso de ele ter uma nova oportunidade no Catar em 2022. Para a seleção brasileira, que irá para longos vinte anos de jejum em Copas do Mundo, a necessidade de renovação de nomes no grupo de jogadores talvez seja o item primordial no ciclo de quatro anos que em breve irá se iniciar, seja quem for o técnico responsável por liderar uma nova jornada em busca do hexacampeonato mundial. Veremos o que vem pela frente.
terça-feira, 15 de maio de 2018
Superman II: The Richard Donner Cut (2006)
A morte da atriz que eternizou a super-mocinha Lois Lane na sétima arte, Margot Kidder, no último dia 13 de maio aos 69 anos, joga luz indiretamente para um capítulo ainda obscuro da filmografia narrativa da saga do filho de Jor-El em terras humanas. Trata-se do corte de “Superman II” assinado e lançado por Richard Donner 26 anos após a película original vir ao mundo, em 1980.
Realizador do antológico “Superman: The Movie” (1978) – volta e meia apontado como o melhor filme de herói de todos os tempos –, Donner também era o diretor da sequência, mas acabou ceifado do comando do projeto pelos produtores durante as filmagens. Para o seu lugar foi escolhido Richard Lester, diretor do primeiro beatle movie, “A Hard Day’s Night” (1964).
Na prática, o substituto se aproveitou de quase todo o material que já fora rodado pelo antecessor para subverter o espírito do roteiro original, criando um clima de comédia pastelão onde, em princípio, haveria a profundidade e a tensão vista na trama que abre o projeto Superman.
Apesar de bem sucedido nas bilheterias, o resultado final de “Superman II - A Aventura Continua” foi um conjunto de críticas impiedosas por parte da imprensa e um clima de alguma coisa feita às pressas, muito longe do apuro cinematográfico visto no primeiro filme.
Recuperando cenas suas não aproveitadas e retirando outras de Lester que destoavam da visão única que tinha para os dois primeiros filmes da série – não por acaso feitos ao mesmo tempo –, Donner corrige em forma e principalmente conteúdo o percurso “alternativo” da segunda aventura do Homem de Aço nas telas.
Questão acima de tudo de justiça histórica, “Superman II: The Richard Donner Cut” garante a continuidade adequada e coerente com o enredo bem amarrado que Donner imaginou e realizou para eternizar nas telas o mais popular de todos os super-heróis dos quadrinhos.
Imperdível.
quinta-feira, 19 de abril de 2018
A gestão off-futebol
Todos nós flamenguistas, de uma forma ou de outra, em algum momento ao longo dos cinco anos e pouco dessa gestão, nos iludimos com as perspetivas encantadoras trazidas por frases de efeito como “o ano mágico que vai chegar”, “a potência que está surgindo”, “os outros vão comer poeira atrás da gente”, “endinheirado e estruturado, ninguém vai segurar o Mengão” e por aí vai.
Muito desse discurso, registre-se, insuflado por membros da diretoria ao longo desses cinco anos e pouco.
Acontece que a realidade trouxe um cenário diferente de tudo isso, refletindo-se em derrotas inesperadas, fracassos que não combinavam com o quadro pintado a ouro e decepções sucessivas, fora do esquadro que fez muitos torcedores ignorarem que futebol se ganha dentro de campo, com qualidades que muitas vezes nem todo dinheiro do mundo pode comprar.
Dos mais crentes aos mais céticos, muitos de nós acabamos nos deixando levar por um ar de arrogância que jamais combinou com a história de suor de povo do manto rubro-negro.
Trabalhar com mais uma possibilidade real de novo baque – a humilhação monstra de uma quarta eliminação seguida na suposta prioridade do calendário – só vai expor ao famigerado arco-íris (das torcidas adversárias à imprensa anti) mais um dos inúmeros erros na condução do carro-chefe do Flamengo, justamente em um momento importantíssimo de reconstrução em diversas outras áreas do clube.
Uma ironia cruel para o torcedor que se permitiu sonhar acordado antevendo um domínio que nunca, jamais chegou perto de existir na realidade. Desilusão é o nome disso.
A gestão Bandeira de Mello, com todos os seus inegáveis méritos administrativos, também será cobrada no curso da história pelos seus deméritos quando o assunto for campo e bola – afinal, como diz o apolinho Washington Rodrigues, o Flamengo nada mais é do que um gigante que se alimenta de vitórias.
Que elas possam voltar, no campo e na bola, com pouco ou muito dinheiro, mas sempre com a mítica alma rubro-negra, a partir do ano que vem.
SRN
Muito desse discurso, registre-se, insuflado por membros da diretoria ao longo desses cinco anos e pouco.
Acontece que a realidade trouxe um cenário diferente de tudo isso, refletindo-se em derrotas inesperadas, fracassos que não combinavam com o quadro pintado a ouro e decepções sucessivas, fora do esquadro que fez muitos torcedores ignorarem que futebol se ganha dentro de campo, com qualidades que muitas vezes nem todo dinheiro do mundo pode comprar.
Dos mais crentes aos mais céticos, muitos de nós acabamos nos deixando levar por um ar de arrogância que jamais combinou com a história de suor de povo do manto rubro-negro.
Trabalhar com mais uma possibilidade real de novo baque – a humilhação monstra de uma quarta eliminação seguida na suposta prioridade do calendário – só vai expor ao famigerado arco-íris (das torcidas adversárias à imprensa anti) mais um dos inúmeros erros na condução do carro-chefe do Flamengo, justamente em um momento importantíssimo de reconstrução em diversas outras áreas do clube.
Uma ironia cruel para o torcedor que se permitiu sonhar acordado antevendo um domínio que nunca, jamais chegou perto de existir na realidade. Desilusão é o nome disso.
A gestão Bandeira de Mello, com todos os seus inegáveis méritos administrativos, também será cobrada no curso da história pelos seus deméritos quando o assunto for campo e bola – afinal, como diz o apolinho Washington Rodrigues, o Flamengo nada mais é do que um gigante que se alimenta de vitórias.
Que elas possam voltar, no campo e na bola, com pouco ou muito dinheiro, mas sempre com a mítica alma rubro-negra, a partir do ano que vem.
SRN
segunda-feira, 11 de setembro de 2017
Um erro perigoso
Da parte visitante, a impressão que ficou é que praticamente ninguém parecia estar se importando muito com o Botafogo x Flamengo do Engenhão, valendo pelo returno do Brasileirão. Da direção do Clube aos jogadores, passando pela Comissão Técnica e pelos formadores de opinião / influenciadores, pouco se ouviu e se falou até pouco antes da partida.
Uma pena e um erro, que só expõe a forma torta como se enxerga e se trabalha o principal produto do futebol nacional. Fazer do Campeonato Brasileiro um apêndice de outras "prioridades" (Libertadores, Copa do Brasil, Sul-americana) é jogar fora, às vezes muito cedo, o ganha-pão dos clubes durante a maior parte do calendário. Repito: uma pena e um erro.
O reflexo disso, meio óbvio até, é que a própria torcida passa também a não se importar com a competição. Aí não é só um erro: é um perigo. Ontem, em um clássico local disputado no Rio de Janeiro e valendo posição importante na tabela, tivemos a vergonhosa marca de 238 flamenguistas apoiando o time no estádio. DUZENTAS E TRINTA E OITO PESSOAS.
Jogo oficial. Clássico. Campeonato Brasileiro. Rio. Tempo bom. Time no G6.
Qual a desculpa? Preço do ingresso? Crise? Violência?
Para mim, nada justifica um público desse.
Talvez tenhamos tido ontem, neste triste Botafogo 2 x 0 Flamengo, um histórico recorde negativo de público rubro-negro em estádio em se tratando de um clássico local, disputado dentro da cidade e valendo pontos.
Uma vergonha completa.
terça-feira, 15 de agosto de 2017
Há 20 anos, um acachapante Flamengo 3 x 0 Real Madrid
Há exatos 20 anos, em 15 de agosto de 1997, o Flamengo MORALIZAVA o poderoso Real Madrid – então campeão espanhol – pelo Torneiro Palma de Mallorca, na Espanha. Sapecou nada menos que um 3 x 0 sem dó, com gols de Maurinho (é seleção!), Lúcio Bala e Sávio – este, aliás, acabaria se transferindo para a equipe merengue logo após a bela atuação pelo rubro-negro.
Hoje, além de raros, os confrontos entre brasileiros e europeus infelizmente expõem, quando ocorrem, o abismo colossal entre os dois mercados, algo que duas décadas atrás não existia nessa proporção gigantesca.
Em tempo: esta foi a última vez em que as duas equipes se enfrentaram, com mais dois jogos tendo sido realizados em 1978. O Flamengo tem duas vitórias e o Real Madrid, uma.
Partida: Flamengo 3 x 0 Real Madrid
Data: 15/08/1997
Local: Estádio Carlos Belmonte, Mallorca (ESP)
Competição: Torneio Palma de Mallorca (torneio amistoso internacional)
Flamengo: Clemer; Fábio Baiano (Leandro Neto), Júnior Baiano (Juan), Luís Alberto e Gilberto; Jamir (Bruno Quadros), Jorginho, Maurinho e Sávio (Iranildo); Renato Gaúcho (Rodrigo Mendes) e Lúcio. Téc.: Paulo Autuori.
Real Madrid: Cañizares; Secretário, Sanches (Vitor), Panucci (Chendo) e Karanka; Jaime, Seedorf (Gutti), Amavisca (Zé Roberto) e Mijatovic; Raul e Suker. Téc.: Jupp Heynckes.
Hoje, além de raros, os confrontos entre brasileiros e europeus infelizmente expõem, quando ocorrem, o abismo colossal entre os dois mercados, algo que duas décadas atrás não existia nessa proporção gigantesca.
Em tempo: esta foi a última vez em que as duas equipes se enfrentaram, com mais dois jogos tendo sido realizados em 1978. O Flamengo tem duas vitórias e o Real Madrid, uma.
Partida: Flamengo 3 x 0 Real Madrid
Data: 15/08/1997
Local: Estádio Carlos Belmonte, Mallorca (ESP)
Competição: Torneio Palma de Mallorca (torneio amistoso internacional)
Flamengo: Clemer; Fábio Baiano (Leandro Neto), Júnior Baiano (Juan), Luís Alberto e Gilberto; Jamir (Bruno Quadros), Jorginho, Maurinho e Sávio (Iranildo); Renato Gaúcho (Rodrigo Mendes) e Lúcio. Téc.: Paulo Autuori.
Real Madrid: Cañizares; Secretário, Sanches (Vitor), Panucci (Chendo) e Karanka; Jaime, Seedorf (Gutti), Amavisca (Zé Roberto) e Mijatovic; Raul e Suker. Téc.: Jupp Heynckes.
segunda-feira, 7 de agosto de 2017
#Caetano75: 10 obras de gênio assinadas por ele
• It's a Long Way (1972): https://open.spotify.com/track/7mRS0oNPfchMpiMjXYattc?si=sPXNSIWX
• Tigresa (1977): https://open.spotify.com/track/6pRikhKO5RuJRA6fBFQzef?si=Lzgfbh9T
• Força Estranha (1978): https://open.spotify.com/track/2pkBfMJqLNvJoFsEXmgoJI?si=CI2POX0q
• Pecado Original (1978): https://open.spotify.com/track/4LWjZXvMewM6pisB08iSGW?si=sW0t9Lp8
• Oração ao Tempo (1979): https://open.spotify.com/track/3AqZSr9UzhftkTiEXSNqrU?si=NTymttjG
• Cajuína (1979): https://open.spotify.com/track/480zUruhn0QEIC32xdiCky?si=DiEylUwH
• Queixa (1982): https://open.spotify.com/track/1NIAQbzrcpqoaZd3sNFFKJ?si=xWxxdq8r
• Você é Linda (1983): https://open.spotify.com/track/5oV7hSzqDLWsTgXCrIfRwz?si=Y1hsCFHx
quinta-feira, 3 de agosto de 2017
Reflexões sobre um Flamengo à procura de rumo
Quinta-feira, 3 de agosto de 2017. Dia com o sabor amargo da ressaca moral. Com a dureza do choque de realidade. Com a frieza da ducha de água gelada de um mundo como ele é, e não como deveria ser. Vale para o Brasil, vale para o Flamengo. Falarei rapidamente sobre este segundo, cujo futuro pelo menos ainda me traz algum tipo de esperança, embora o presente exija reflexões.
O Flamengo reestruturado institucionalmente, recuperado financeiramente e incensado administrativamente passa, sim, por uma crise de identidade. Dentro e fora dos campos. Talvez uma crise menos grave que a de tempos atrás, quando as perspectivas eram desanimadoras em quase todos os níveis e áreas, mas não menos importante de ser discutida, avaliada e devidamente tratada.
Fora das quatro linhas, o problema principal passa pela transição da Era Maracanã para a Era do Estádio Próprio – neste primeiro momento representada pela casa provisória na Ilha do Governador. Como ajustar a demanda cada vez maior de um público diverso e gigantesco, como é a massa rubro-negra, às necessidades de caixa do clube? Como garantir as maiores receitas financeiras possíveis com a realização de jogos sem alijar parte do povo flamengo do seu time de coração? Essas e outras questões estão em aberto, e se colocam a cada partida jogada numa Ilha do Urubu de parcos 20 mil assentos, quase sempre não preenchidos na sua totalidade em virtude de preços praticados acima da média.
Mas a questão que mais aflige o torcedor, hoje, está situada dentro de campo, curiosamente a área na qual menos se depositava preocupação à medida em que o belo elenco que temos atualmente vinha sendo construído – ok, construído no meio da temporada, mas mesmo assim a tempo suficiente de entregar resultados. Eliminado precocemente da Libertadores e claudicando no Brasileirão, o Flamengo vive uma realidade distante das suas pretensões iniciais. Futebol débil, time em constante mutação e sem padrão tático algum, desempenho técnico sofrível dos principais nomes, insistência na escalação de nomes menos cotados, atuações regularmente fracas do conjunto, técnico demonstrando cada vez menos repertório. O lugar no G6 tem cara e jeito de meio de tabela. O viés, inegavelmente, é de baixa.
Além de discutir as pessoas – que podem e devem ser cobradas no dia a dia, especialmente quando têm todas as condições estruturais de trabalho à disposição –, talvez seja o caso de também se discutir as filosofias, no plural.
Discutir a filosofia do comando do futebol, que parece se apegar a uma profecia irrefutável a ser confirmada a qualquer custo, mesmo quando os fatos esfregam na cara de todos um quadro totalmente oposto. Arrogância típica de quem se vê como um doutrinador de teses no cargo de gestor, justamente quando a gestão mais carece de ideias arejadas. Discutir a filosofia da torcida, que viu no poderio financeiro uma porta de acesso direto às conquistas de tudo – os tais "entreguem as taças" e "Brasileiro é obrigação". Arrogância típica de novo rico premiado na Mega-Sena, que na euforia tem a certeza de que o dinheiro tudo pode comprar, sem enxergar que valores imateriais são inegociáveis em papel moeda.
Os conflitos que circundam o Flamengo nos dias de hoje tem um quê de existenciais, de foro íntimo-institucional, e refletem, ao meu ver, um clube em mutação, saído de (muitos) anos amadorísticos e vislumbrando uma fase duradoura de liderança. A ansiedade pelos resultados crescerá à proporção em que as finanças polpudas resultarem em cifras de investimentos cada vez maiores, em um aparato infraestrutural cada vez melhor e em contratações cada vez mais midiáticas.
Lidar com a pressão é natural para quem vive diariamente o Flamengo, da arquibancada aos gabinetes, mas lidar com a obrigação do protagonismo é algo ainda a ser melhor ajustado na cabeça de dirigentes, dos membros da comissão técnica, dos jogadores e da torcida – seja o mais abastardo que pode ir a todos os jogos, seja o menos favorecido que vê e sofre de longe.
Se o virtual campeão brasileiro de 2017 se autointitula realisticamente como "o time que sabe sofrer", o Flamengo rico, teimoso, trôpego e perdido de 2017 poderia se assumir, num ato de sincericídio, como "o time que (ainda) não sabe ganhar".
SRN
O Flamengo reestruturado institucionalmente, recuperado financeiramente e incensado administrativamente passa, sim, por uma crise de identidade. Dentro e fora dos campos. Talvez uma crise menos grave que a de tempos atrás, quando as perspectivas eram desanimadoras em quase todos os níveis e áreas, mas não menos importante de ser discutida, avaliada e devidamente tratada.
Fora das quatro linhas, o problema principal passa pela transição da Era Maracanã para a Era do Estádio Próprio – neste primeiro momento representada pela casa provisória na Ilha do Governador. Como ajustar a demanda cada vez maior de um público diverso e gigantesco, como é a massa rubro-negra, às necessidades de caixa do clube? Como garantir as maiores receitas financeiras possíveis com a realização de jogos sem alijar parte do povo flamengo do seu time de coração? Essas e outras questões estão em aberto, e se colocam a cada partida jogada numa Ilha do Urubu de parcos 20 mil assentos, quase sempre não preenchidos na sua totalidade em virtude de preços praticados acima da média.
Mas a questão que mais aflige o torcedor, hoje, está situada dentro de campo, curiosamente a área na qual menos se depositava preocupação à medida em que o belo elenco que temos atualmente vinha sendo construído – ok, construído no meio da temporada, mas mesmo assim a tempo suficiente de entregar resultados. Eliminado precocemente da Libertadores e claudicando no Brasileirão, o Flamengo vive uma realidade distante das suas pretensões iniciais. Futebol débil, time em constante mutação e sem padrão tático algum, desempenho técnico sofrível dos principais nomes, insistência na escalação de nomes menos cotados, atuações regularmente fracas do conjunto, técnico demonstrando cada vez menos repertório. O lugar no G6 tem cara e jeito de meio de tabela. O viés, inegavelmente, é de baixa.
Além de discutir as pessoas – que podem e devem ser cobradas no dia a dia, especialmente quando têm todas as condições estruturais de trabalho à disposição –, talvez seja o caso de também se discutir as filosofias, no plural.
Discutir a filosofia do comando do futebol, que parece se apegar a uma profecia irrefutável a ser confirmada a qualquer custo, mesmo quando os fatos esfregam na cara de todos um quadro totalmente oposto. Arrogância típica de quem se vê como um doutrinador de teses no cargo de gestor, justamente quando a gestão mais carece de ideias arejadas. Discutir a filosofia da torcida, que viu no poderio financeiro uma porta de acesso direto às conquistas de tudo – os tais "entreguem as taças" e "Brasileiro é obrigação". Arrogância típica de novo rico premiado na Mega-Sena, que na euforia tem a certeza de que o dinheiro tudo pode comprar, sem enxergar que valores imateriais são inegociáveis em papel moeda.
Os conflitos que circundam o Flamengo nos dias de hoje tem um quê de existenciais, de foro íntimo-institucional, e refletem, ao meu ver, um clube em mutação, saído de (muitos) anos amadorísticos e vislumbrando uma fase duradoura de liderança. A ansiedade pelos resultados crescerá à proporção em que as finanças polpudas resultarem em cifras de investimentos cada vez maiores, em um aparato infraestrutural cada vez melhor e em contratações cada vez mais midiáticas.
Lidar com a pressão é natural para quem vive diariamente o Flamengo, da arquibancada aos gabinetes, mas lidar com a obrigação do protagonismo é algo ainda a ser melhor ajustado na cabeça de dirigentes, dos membros da comissão técnica, dos jogadores e da torcida – seja o mais abastardo que pode ir a todos os jogos, seja o menos favorecido que vê e sofre de longe.
Se o virtual campeão brasileiro de 2017 se autointitula realisticamente como "o time que sabe sofrer", o Flamengo rico, teimoso, trôpego e perdido de 2017 poderia se assumir, num ato de sincericídio, como "o time que (ainda) não sabe ganhar".
SRN
sexta-feira, 20 de janeiro de 2017
Axé da Bahia, do Brasil para o mundo
São muitos os méritos de "Axé - Canto do Povo de um Lugar", documentário que estreou ontem nos cinemas narrando a história de linhas tortas, mas de estrondoso sucesso, da música carnavalesca feita em Salvador para o Brasil e o mundo. O filme abrange todas as pontas do movimento musical que nasceu mambembe e cresceu estruturado como indústria, fomentando músicos e compositores, gerando milhões em receita e consagrando dezenas de artistas como astros e estrelas do showbiz nacional.
Como documento histórico, o longa-metragem de Chico Kertész tenta decifrar a origem do som dançante que dominou as paradas de sucesso de rádios e TVs brasileiras por mais de duas décadas, e acaba mostrando que tudo cabia naquele liquidificador sonoro: o frevo dos trios elétricos dos anos 1970, a guitarra baiana de Armandinho, as influências latinas de Gerônimo, a batida do samba-reggae criada por Neguinho do Samba para o Olodum. Tudo podia ser "axé music" naquele cenário de efervescência e inventividade que dominava a cena cultural soteropolitana, alimentada pelos investimentos em novas bandas feitos pelos blocos de carnaval e pelo estúdio WR.
Luiz Caldas, como o primeiro astro nacional do movimento, trouxe consigo uma primeira leva de artistas para um Brasil que aprendia a dançar com trejeitos e sotaques. Vieram Reflexus, Banda Mel, Chiclete com Banana, Sarajane, Cheiro de Amor, Banda Beijo... Em Daniela Mercury, a primeira estrela internacional. Um furacão que pôs a Bahia, a partir do início daqueles anos 1990, como o principal polo produtor das maiores e mais impressionantes vendagens da indústria fonográfica brasileira por anos seguidos – Banda Eva, Netinho, É o Tchan! e Terra Samba tiveram um punhado de discos de diamante (mais de 1 milhão de cópias por álbum) para chamar de seus.
Fechando com o fenômeno Ivete Sangalo – há mais de uma década a artista mais popular do Brasil – e apontando para Saulo Fernandes o que pode ser a continuidade num momento de declínio comercial e de prestígio em baixa, muito em função da perda de conexão com a nova geração consumidora, "Axé..." retrata com fidelidade e precisão o movimento musical de maior sucesso do país surgido e estruturado 100% fora do eixo Rio-SP. Uma monstruosa indústria de ritmos, hits, modismos, lucros, egos e sonhos que só podia ter acontecido, do jeito totalmente porreta que aconteceu, na Bahia.
Como documento histórico, o longa-metragem de Chico Kertész tenta decifrar a origem do som dançante que dominou as paradas de sucesso de rádios e TVs brasileiras por mais de duas décadas, e acaba mostrando que tudo cabia naquele liquidificador sonoro: o frevo dos trios elétricos dos anos 1970, a guitarra baiana de Armandinho, as influências latinas de Gerônimo, a batida do samba-reggae criada por Neguinho do Samba para o Olodum. Tudo podia ser "axé music" naquele cenário de efervescência e inventividade que dominava a cena cultural soteropolitana, alimentada pelos investimentos em novas bandas feitos pelos blocos de carnaval e pelo estúdio WR.
Luiz Caldas, como o primeiro astro nacional do movimento, trouxe consigo uma primeira leva de artistas para um Brasil que aprendia a dançar com trejeitos e sotaques. Vieram Reflexus, Banda Mel, Chiclete com Banana, Sarajane, Cheiro de Amor, Banda Beijo... Em Daniela Mercury, a primeira estrela internacional. Um furacão que pôs a Bahia, a partir do início daqueles anos 1990, como o principal polo produtor das maiores e mais impressionantes vendagens da indústria fonográfica brasileira por anos seguidos – Banda Eva, Netinho, É o Tchan! e Terra Samba tiveram um punhado de discos de diamante (mais de 1 milhão de cópias por álbum) para chamar de seus.
Fechando com o fenômeno Ivete Sangalo – há mais de uma década a artista mais popular do Brasil – e apontando para Saulo Fernandes o que pode ser a continuidade num momento de declínio comercial e de prestígio em baixa, muito em função da perda de conexão com a nova geração consumidora, "Axé..." retrata com fidelidade e precisão o movimento musical de maior sucesso do país surgido e estruturado 100% fora do eixo Rio-SP. Uma monstruosa indústria de ritmos, hits, modismos, lucros, egos e sonhos que só podia ter acontecido, do jeito totalmente porreta que aconteceu, na Bahia.
segunda-feira, 2 de janeiro de 2017
Dez discos de 2016 para se escutar em 2017 (e em 2018, 2019...)
- 24K Magic (Bruno Mars): O melhor do new jack swing noventista rejuvenescido em grande estilo pelo cara que manda e desmanda hoje em dia.
- ANTI (Rihanna): Contando com uma excepcional releitura de "Same Ol' Mistakes", do Tame Impala, a mulé lacrou geral nazinimiga – de novo.
- Blackstar (David Bowie): Uma aula de dignidade e de boa música no epílogo de um grande mestre. Cara que faz uma falta da porra...
- Blue & Lonesome (The Rolling Stones): As raízes expostas no blues que ajudaram a forjar a maior banda de rock em atividade. Imperdível.
- Duas Cidades (BaianaSystem): O pós-Axé que pulsa na periferia de Salvador fala pro mundo inteiro. Coisa de gente grande e antenada.
- Gatos e Ratos (Odair José): O cronista popular reencontrou a boa forma no bom e velho rock'n'roll. Não sobra pra ninguém neste ótimo disco.
- Mahmundi (Mahmundi): Principal revelação da música brasileira em 2016. Álbum que renova as esperanças em muita coisa. Apenas excelente.
- O Problema É A Velocidade (Emanuelle Araújo): A baiana tirou onda com um disco lírico, cheio de nuances, mas sem dispensar o suingue nagô.
- Sky High (Fish Magic): O segundo trabalho solo do brother Mário Quinderé é denso e bebe de muitas fontes, resultando num rock atemporal.
- Starboy (The Weeknd): Apesar de excessivamente longo, o petardo pop tem belíssimos momentos, como as duas parcerias com Daft Punk.
quinta-feira, 1 de dezembro de 2016
Uma Medellín de amor e lágrimas para o mundo ver
O que aconteceu nesta quarta-feira dentro e fora do lotado estádio Atanásio Girardot, em Medellín, foi algo para fazer recobrar a fé na humanidade até no mais cético e duro ser humano. Demonstração de respeito e amor em níveis caudalosos, extremos.
Jamais vi ou tive conhecimento de algo próximo: uma celebração gratuita de solidariedade em dimensões colossais montada em poucas horas. Nada ali foi trivial. Pensar em algo assim em meio ao caos da tragédia impressiona.
O povo colombiano, devastado por anos a fio no centro da guerra sangrenta do narcotráfico, ensinou ao mundo como agir diante da mais aguda tristeza.
O Clube Atlético Nacional se apresentou como um gigante do futebol mundial num âmbito bem além do esportivo. Uma nobreza de caráter admirável.
A Chapecoense não poderia ter pela frente um outro parceiro – rival nunca! – mais poderoso para essa final, que infelizmente jamais será disputada.
Que lição de vida, de dignidade e de irmandade.
Emocionante.
sexta-feira, 7 de outubro de 2016
Dez shows da minha vida
- Paul McCartney, Rio (Maracanã), 1990
- Michael Jackson, SP (Morumbi), 1993
- Legião Urbana, Rio (Metropolitan), 1994
- Stevie Wonder e Gilberto Gil, Rio (Metropolitan), 1995
- The Police, Rio (Maracanã), 2007
- Roberto Carlos, Rio (Maracanã), 2009
- U2, SP (Morumbi), 2011
- Sade, Brasília (Nilson Nelson), 2011
- Bob Dylan e Mark Knopfler, Chicago (United Center), 2012
- Rolling Stones, Rio (Maracanã), 2016
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Só o começo
Diego, Donatti, Damião. Três contratações de impacto somente nos últimos 15 dias.
Guerrero, Mancuello, Juan, Ederson, Rever, Cuéllar, Arão, Sheik, Muralha. Várias contratações igualmente impactantes nos últimos 12 meses.
Todos eles jogadores que seriam titulares em praticamente todos os clubes do Brasil.
Na prática, um conjunto de contratações que dá ao Flamengo, depois de muitos anos, um elenco de candidato real ao título de campeão brasileiro.
Não se trata apenas de um time, de contratações pontuais de um ou de outro craque. Vimos isso de tempos em tempos, e quase sempre o objetivo de voltar a dominar o Brasil se frustrava. Agora há um elenco, e mais que isso.
Lá atrás tivemos Sávio, Romário e Edmundo, três ícones que, juntos, se eternizaram na piada do "pior ataque no mundo". Tivemos Alex, Denílson, Edilson, Gamarra, Vampeta e Petkovic, em um grandioso projeto que ficou apenas nos Estaduais (inesquecíveis, lindos, mas estaduais) e na finada Copa dos Campeões. Tivemos Ronaldinho Gaúcho e Thiago Silva, ambos pilotando um bonde que também nos deu apenas o domínio regional, além de um jogo eterno na Vila.
Por outro lado, graças das Deus, tivemos Adriano, Bruno, o velho Pet e a cabeçada do Angelim, naquele campeonato milagrosamente maluco de 2009.
Todos craques, cracaços, mas que vieram em rascunhos de projetos políticos isolados, que deram ao clube retorno esportivo aquém do que pretendiam e resultados administrativos terríveis. Sabemos todos que o Clube sangra no bolso até hoje.
Agora temos a oportunidade de ver outros craques especiais, novatos em se tratando de Flamengo e que ainda causa certa estranheza em parte da torcida, mas fundamentais: planejamento, estrutura e responsabilidade. Craques que não vestem a camisa, mas que valorizam o Manto Sagrado da melhor maneira possível.
O patamar do Clube mudou. A realidade hoje é outra. As cobranças aumentarão, de todos os lados. A obrigação, porém, segue a mesma: o clube mais popular do país, como diz o Apolinho, é um gigante que se alimenta de títulos. A formação do atual elenco como fruto desse processo de profissionalização da gestão só aumenta a fome desse monstro.
Apesar do cheirinho que paira no ar, o título deste ano ainda é um sonho. A diferença é que, ao contrário de outros tempos, não se trata apenas de um sonho de uma noite de verão – ou de uma temporada. É um sonho real, com perspectiva de ser duradouro.
Que seja o início de uma nova e longa era de grandeza para o Flamengo, com grandes títulos.
Comecemos pelo hepta.
SRN
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