segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

A grandeza indiscutível do Flamengo, agora em cifras

Fica cada vez mais difícil para os antiflamenguistas conseguirem argumentos capazes de ofuscar, por um pouquinho que seja, a real posição de liderança e primazia do Clube de Regatas do Flamengo no cenário do futebol brasileiro. Se dentro de campo a parada para eles está definitivamente perdida, com a hegemonia de títulos no Brasil e no Rio, fora de campo as coisas também não vão bem para a turma do arco-íris.

A matéria abaixo, publicada originalmente no Globoesporte.com a partir de reportagem de "O Estado de S. Paulo", coloca o Flamengo como a marca mais valiosa do futebol brasileiro, de acordo com um estudo da consultoria Crowe Horwath RCS. Pelo levantamento, se um sheik árabe pisasse por essas bandas a fim de comprar o Flamengo, teria de desembolsar em petrodólares o equivalente a R$ 568 milhões.

A título de comparação, o trio de ferro paulista – Corinthians, São Paulo e Palmeiras –, mesmo baseado naquela que é, de longe, a cidade mais rica do continente, come poeira atrás do Mengão.

Fazer o que, né...

Ah, já ia me esquecendo: segundo o mesmo estudo, o trio de lata carioca, somado, não vale 60% de um Flamengo. Isso mesmo: Vasco, Fluminense e Botafogo, juntos, estão um pouquinho acima da nossa cintura. Tem que olhar lááááá para baixo.

Precisa dizer mais alguma coisa?

Saudações HEXAgeradamente rubro-negras.

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Marcas de Fla, Corinthians e São Paulo valem, cada uma, mais de meio bilhão
Estudo da Crowe Horwath RCS revela valores das marcas dos 12 maiores clubes do Brasil. Apesar do crescimento, diferença para europeus é grande
GLOBOESPORTE.COM
Rio de Janeiro


Nem adianta perguntar para um torcedor o valor do seu clube. É provável que a resposta seja "não tem preço". No entanto, a marca de cada clube vale, e muito, quando se trata dos maiores do Brasil. Foi o que revelou um estudo da Crowe Horwath RCS, divulgado pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Ainda que longe das assustadoras cifras dos europeus, três brasileiros se apresentam como grandes potências.

1º - Flamengo: R$ 568 milhões
2º - Corinthians: R$ 563 milhões
3º - São Paulo: R$ 552 milhões
4º - Palmeiras: R$ 420 milhões
5º - Internacional: R$ 231 milhões
6º - Grêmio: R$ 214 milhões
7º - Cruzeiro: R$ 139 milhões
8º - Santos: R$ 135 milhões
9º - Vasco: R$ 122 milhões
10º - Fluminense: R$ 109 milhões
11º - Botafogo: R$ 97 milhões
12º - Atlético-MG: R$ 92 milhões

Os dois de maiores torcidas do Brasil, Flamengo e Corinthians, seguidos pelo São Paulo, podem ter como grande fonte de renda suas marcas. Cada uma vale mais de meio bilhão de reais, segundo a pesquisa. O Manchester United é o clube com a marca mais valiosa do mundo: R$ 3.204 milhões.

O levantamento levou em consideração os 12 clubes de maior torcida e número de títulos, de 1971 (início do Campeonato Brasileiro) a 2009. Os avaliados são os quatro grandes de São Paulo, os quatro do Rio, dois de Minas Gerais e os dois do Rio Grande do Sul.

De acordo com o estudo, a evolução nas receitas dos clubes entre 2003 e 2008 foi de 115%. As que apresentaram maior crescimento foram a exploração do marketing e a venda de ingressos. Para chegar aos números finais, foram usadas informações como os dados financeiros, perfil e hábito dos torcedores, marketing e mercado nacional e local. O resultado é baseado em marketing, estádio, sócios e mídia.

Para o futuro, essa arrecadação pode ser ainda maior. Hoje, as marcas dos doze principais clubes valem R$ 1,9 bilhão. Daqui a quatro anos, após a Copa de 2014, o número pode chegar a R$ 3,4 bilhões.

Já de olho no Mundial, o São Paulo espera manter, com seu estádio, a força que o projeta hoje como o terceiro da lista. O Tricolor se aproxima dos líderes graças a uma evolução de 234% em bilheteria e 93% em marketing.

Fonte: Globoesporte.com - http://globoesporte.globo.com/Esportes/Noticias/Futebol/0,,MUL1428280-9825,00-MARCAS+DE+FLA+CORINTHIANS+E+SAO+PAULO+VALEM+CADA+UMA+MAIS+DE+MEIO+BILHAO.html

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Vale a pena ler de novo: o tetra do Flamengo, indiscutível hexacampeão brasileiro de futebol

Bom, neste primeiro post após a emoção da conquista do hexacampeonato pelo Mengão, vou abordar justamente a história do... hexacampeonato do Mengão! Mais precisamente do nosso quarto título, conquistado na Copa União de 1987 de forma muito semelhante ao campeonato deste ano: time chegando sem a atenção de muitos, vitórias suadas (algumas improváveis), um ídolo trintão à frente do time e um técnico "de casa" no comando. Isso sem falar na presença de Andrade em ambos os triunfos...

Mas o que quero é tão somente rememorar o autêntico teatro de comédia em que se transformou aquele torneio, que, por imposição da CBF colocada à mesa APÓS (de novo: APÓS) o seu início, culminaria com um dos mais esdrúxulos desfechos que o futebol profissional mundial teria notícia: um quadrangular entre os campeões e os vices da primeira e da segunda divisão para averiguar quem seria o real campeão do país. Pode isso? Nem em Bangladesh já se ouviu algo assim.

Evidentemente, Flamengo, Internacional e Clube dos 13 não compactuaram com tamanho disparate. Desde então, todos, do antigo Conselho Nacional de Desportos (então a instância máxima brasileira na área desportiva) à mídia em geral, passando pelas pessoas e instituições de bom senso, tratam o Flamengo como o real campeão de 1987. Mesmo que a CBF estampe em seu site algo diferente disso, falta a ela autoridade para contestar qualquer coisa que se refira à Copa União daquele ano.

Para deixar isso bem claro, reproduzo abaixo um texto excelente publicado há dois anos pela revista Trivela, que rememora todo o imbróglio e elucida várias controvérsias relativas ao ano em que conquistamos o tetra brasileiro. Esta postagem acaba sendo, por assim dizer, uma suíte do que eu já havia escrito e defendido aqui mesmo neste humilde blog no ano passado (leia em http://blogdooldon.blogspot.com/2008/10/taa-das-bolinhas-e-verdade-da-copa-unio_21.html).

Divirta-se, e Saudações Hexageradamente Rubro-Negras.

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Crise, revolução e traição
Postado em 05/11/2007 às 13:13 por Ubiratan Leal

Com o testemunho de 122.001 torcedores que lotavam o Maracanã no fim da tarde de 19 de julho de 1992, o Flamengo empatou em 2 a 2 com o Botafogo e conquistou o Brasileirão. Para o clube, era seu quinto campeonato nacional. Por isso, o capitão rubro-negro Júnior ergueu a Copa Brasil como se tomasse posse definitiva do troféu. Para a CBF, porém, era apenas o quarto título flamenguista e a taça continuaria à espera do primeiro pentacampeão nacional. Diante do impasse, a famosa peça de bolinhas criada pelo artista Maurício Salgueiro foi tirada de circulação e até hoje não tem dono.

A falta de um destino para esse troféu parece uma questão menor, mas dá um bom sinal de como as autoridades até hoje não equacionaram a disputa entre Flamengo e Sport para definir o campeão brasileiro de 1987. Uma história que muitas vezes é reduzida à validade de um cruzamento entre os melhores do Módulo Verde (formado pelos grandes clubes) com o do Amarelo, mas que envolveu briga política, mudança de regulamentos e até traição.

Capítulo 1: CBF em crise institucional

Na metade da década de 1980, já não havia mais condições de manter os Brasileirões inchados, com até 94 participantes. A própria CBF determinou que, em 1987, o campeonato seria reduzido para 24 clubes, definidos pelas posições na segunda fase do torneio no ano anterior. Seria simples, se os problemas não começassem ainda na Copa Brasil 1986.

No final da primeira fase, o Joinville pediu os pontos do empate em 1 a 1 com o Sergipe alegando que um jogador do adversário foi pego no exame antidoping. O CND (Conselho Nacional de Desportos) contrariou a CBF e determinou que os catarinenses tinham a vitória, o que agradou ao então ministro da educação Jorge Bornhausen. A decisão, porém, tiraria da segunda fase o Vasco. A confederação ainda envolveu a Portuguesa na discussão e, para agradar a todos, nenhum desses três clubes foi eliminado. Pior, sob influência do chefe da Casa Civil, o pernambucano Marco Maciel, foram abertas mais três vagas na segunda fase, o que beneficiou Náutico, Santa Cruz e Sobradinho-DF.

A falta de autoridade da CBF para impor suas decisões não era gratuita. A entidade vivia grande confusão administrativa desde a eleição à presidência da entidade no início de 1986. Nabi Abi Chedid e Medrado Dias eram os candidatos e havia a expectativa de empate. Se isso ocorresse, Dias seria eleito pelo critério de idade. Assim, momentos antes da votação, Nabi inverteu a chapa com seu vice Octávio Pinto Guimarães, mais velho que o concorrente. Guimarães venceu por um voto e assumiu a presidência da CBF.

Esperava-se que Guimarães fosse presidente apenas formalmente, pois o comando seria de Nabi. “Cheguei a participar de uma reunião que discutiu se Guimarães deveria renunciar meses depois de assumir”, revela Carlos Miguel Aidar, presidente do São Paulo na época, em entrevista à Trivela. Isso não ocorreu e o presidente eleito resolveu fazer valer seu poder, o que desagradou o vice. Sem comando forte, o poder da CBF se deteriorou rapidamente. Os reveses se acumulavam – incluindo a derrota para Estados Unidos e Marrocos na concorrência para sediar a Copa de 1994 – e até a situação financeira da entidade era delicada.

Capítulo 2: nasce o Clube dos 13

Enquanto a CBF estava à deriva, os clubes já se organizavam para fazerem valer seus interesses. No caso, a maior preocupação era fazer lobby para incluir na pauta da Assembleia Constituinte – que se formaria em 1988 – um artigo que lhes desse autonomia de organização e funcionamento. A campanha foi bem sucedida e a união de clubes ganhou força. Em abril, Flamengo e São Paulo se negaram a ceder seus jogadores para uma excursão da Seleção Brasileira à Europa e tiveram respaldo do CND. Márcio Braga, presidente do Flamengo na época, saiu da reunião que anulou a convocação da Seleção dizendo, triunfante, que era o “fim do autoritarismo no futebol brasileiro”.

Em junho de 1987, Octávio Pinto Guimarães anunciou: “a CBF não tem condições de organizar o Campeonato Brasileiro deste ano”. O motivo era a falta de dinheiro para arcar com as viagens dos times e outras despesas da competição. Sob o risco de ficarem sem a competição que já era a mais importante do calendário, os grandes clubes resolveram tomar as rédeas da situação. “Liguei para o Nabi e perguntei se era sério o que o Octávio falava. Ele disse que era e ‘deu a bênção’ para que organizássemos o campeonato se quiséssemos”, conta Aidar.

O dirigente são-paulino propôs a comandantes de outros times tradicionais a formação de uma associação de clubes para organizar o Brasileirão. Foram convidadas as equipes mais tradicionais de São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais. Para evitar o rótulo de elitista, também foi convidado um representante do Nordeste, o Bahia. Assim, surgiu a União dos Grandes Clubes Brasileiros, conhecida como Clube dos 13. O presidente são-paulino passou a comandar também a associação.

Capítulo 3: a Copa União ganha forma

Quando foi formatado o novo Campeonato Brasileiro, a intenção foi transformar a competição em um grande produto para o mercado. O principal atrativo era haver apenas confrontos entre clubes de grande torcida. Por isso, não houve critérios técnicos para a definição dos participantes. Guarani e América-RJ, pela ordem, vice-campeão e semifinalista no ano anterior, foram preteridos. “Nossa ideia era romper os vínculos com modelo antigo do torneio, começar uma nova história”, comenta Márcio Braga, presidente do Flamengo. “Priorizamos os clubes que viabilizariam financeiramente uma competição à beira da falência”, acrescenta.

Ainda assim, o Clube dos 13 contava com o apoio da CBF. “A única exigência da entidade para oficializar nosso Campeonato Brasileiro foi a inclusão de mais três clubes de outros Estados”, comenta Aidar. Assim, foram chamados Coritiba, Santa Cruz e Goiás, clubes mais populares e donos de melhor histórico nacional entre paranaenses, pernambucanos e goianos na época. Novamente, não se podia falar em critérios técnicos, pois o Coritiba não era campeão paranaense (perdera o título para o Pinheiros) e fora 43º na Copa Brasil de 1986.

Com participantes definidos, o Clube dos 13 correu atrás de apoio financeiro. João Henrique Areias e Celso Grellet, diretores de marketing de Flamengo e São Paulo, comandaram o projeto comercial. O torneio foi batizado de “Copa União” para ter uma marca que enfatizasse a nova fase do futebol brasileiro e pudesse ser licenciada por diversas empresas. Além disso, a organização obteve o patrocínio oficial de Rede Globo, Coca-Cola e Varig.

A Coca-Cola colocou seu logotipo nas camisas de todos os clubes que não tivessem patrocinadores (apenas Flamengo, Palmeiras e Corinthians tinham contratos a cumprir) e no círculo central do gramado (depois, a Fifa vetou essa ideia e a marca ficou dentro dos gols). A Rede Globo transmitiu o campeonato com exclusividade, com a permissão de passar as partidas na cidade em que eram realizadas. A condição era que, minutos antes de a rodada começar, a emissora fizesse um sorteio de qual jogo seria visto por todo o país (o que gerou a curiosa situação de, em uma tarde com São Paulo x Corinthians e Flamengo x Fluminense, o Brasil inteiro viu Bahia x Goiás, que acabou sendo a despedida de Mário Sérgio).

Capítulo 4: traição, e a CBF volta à cena

A forma como surgia a Copa União deixou vários clubes descontentes. Os líderes do movimento eram América-RJ, Guarani e Portuguesa se sentiam injustiçados, pois teriam direito de estar na elite pelo desempenho no Brasileirão de 1986. “Não dá para aceitar um Campeonato Brasileiro em que os clubes grandes viram a mesa só porque não querem dividir o torneio com ninguém”, brada Homero Lacerda, diretor de futebol do Sport e presidente do clube em 1987. “Os dirigentes de todos os outros clubes sempre foram contra essa atitude autoritária do Clube dos 13 na época.”

O sucesso comercial da competição organizada pelo Clube dos 13 também saltou aos olhos da CBF. Desse modo, a entidade decidiu organizar uma competição com 16 clubes que estavam de fora da Copa União. Usou como critério a classificação do Brasileirão de 1986, apesar de deixar de lado a Ponte Preta em favor do Sport, e conseguiu o apoio do SBT. Depois, a CBF mudou seu discurso e deixou de considerar a Copa União como o Brasileirão. Naquele momento, o torneio dos grandes seria o Módulo Verde e o outro, o Amarelo. Os dois melhores de cada módulo se enfrentariam para definir o campeão nacional.

O Clube dos 13 decidiu boicotar o cruzamento. No entanto, a CBF contou com um apoio de dentro da união de clubes. “O Eurico Miranda era vice-presidente de futebol do Vasco e ficou como nosso interlocutor na CBF”, comenta Aidar. “Ele nos traiu e deu sinal verde para a CBF virar a mesa, mesmo contra a determinação dos outros 12 clubes de não fazer cruzamento com o Módulo Amarelo.” O Clube dos 13 não assinou o regulamento proposto pela confederação, mas já estava aberta a brecha para a confusão.

Os dois torneios caminharam e não se falava em cruzamento. Para a mídia, o título brasileiro se decidia na Copa União. O Flamengo conquistou o torneio ao surpreender o invicto Atlético-MG de Telê Santana na semifinal e ao bater o Internacional na decisão. O Módulo Amarelo teve percalços. Nem a possibilidade de cruzamento contentou América-RJ e Portuguesa, que decidiram boicotar o torneio. A Lusa voltou atrás posteriormente, mas os rubros, de fato, não jogaram uma partida sequer. No final, Guarani e Sport dividiram o título após empate em 11 a 11 na disputa de pênaltis.

Em janeiro daquele ano, a CBF impôs seu regulamento e determinou que seria realizado um mata-mata entre Flamengo, Internacional, Sport e Guarani. Flamenguistas e colorados confirmaram a decisão de boicotar o cruzamento e não compareceram às semifinais. Assim, Sport e Guarani fizeram a final, vencida pelos pernambucanos. As duas equipes representaram o Brasil na Copa Libertadores e foram oficializadas pela CBF como campeão e vice do país em 1987. O CND tinha outra visão e deu o título ao Flamengo. Anos depois, o Rubro-Negro de Recife ganhou o campeonato na Justiça.

Capítulo 5: legado

Não demorou para o Clube dos 13 se aliar à CBF e o movimento não teve continuidade. “Não chegamos a tomar o poder na época por falta de continuidade do caráter político do movimento”, avalia Carlos Miguel Aidar. Hoje, a associação de clubes tem como principal função negociar os direitos de transmissão do Brasileirão.
A confederação voltou a organizar o Brasileirão, apesar de o nome Copa União ter sido mantido em 1988. “A Globo apoiou com força o torneio de 1987 e se sentiu traída pelos clubes no ano seguinte”, afirma o jornalista Juca Kfouri, comentarista da emissora carioca na época e notório entusiasta da Copa União de 1987.

Ainda assim, não se pode dizer que o torneio não deixou seus rastros. A competição organizada pelos grandes clubes teve público médio de 20.877 pagantes, o segundo maior da história do campeonato nacional. Com o dinheiro vindo de patrocinadores, os clubes arrecadaram o equivalente a uma média de público de cerca de 40 mil pagantes. Ficou evidente a demonstração de força dos clubes, que ganharam mais voz nas discussões sobre o destino do futebol brasileiro.

Desde então, o principal torneio de clubes do país passou a prever sistema de promoção e rebaixamento (as exceções foram em 1993, com uma virada de mesa para resgatar o Grêmio, e em 2000, com a criação da Copa João Havelange após a batalha jurídica entre Gama e CBF). “O que era para ser uma revolução se transformou em uma transição, mas não deixou de ter sua importância histórica”, comenta o jornalista Celso Unzelte, pesquisador da história do futebol brasileiro.

O fato de sempre haver um asterisco quando se fala no campeão brasileiro de 1987 não abala o Sport, detentor de direito do título. “Essa confusão toda até foi boa para a gente, pois todos se lembram que somos os campeões de 1987. Ninguém fala no título do Bahia em 1988”, ironiza Lacerda. Para o jornalista Roberto Assaf, autor de três livros sobre a história do Flamengo, o fim da polêmica depende da CBF. “Enquanto a CBF não determinar que o Flamengo também é campeão de 1987, sempre vai se discutir a legimitidade da conquista do Sport.”

E o troféu Copa Brasil? Bem, quando foi criado, em 1975, ele teria posse definitiva do primeiro clube que conquistasse três Brasileirões consecutivos ou cinco alternados. Pelos critérios da CBF, até hoje a peça não tem dono. Pelo Clube dos 13, é do Flamengo. Para não aumentar a confusão, a confederação desistiu da taça, esquecida em um cofre da Caixa Econômica Federal no Rio de Janeiro.

OS ATORES DA PEÇA

Clubes grandes
Estavam dispostos a se unirem para ganhar autonomia e mudar a estrutura do futebol de modo que explorassem melhor seu potencial econômico. Aproveitaram a desistência da CBF em organizar o Brasileirão de 1987 e criaram o Clube dos 13.

Clubes pequenos
Alguns, como América-RJ, Guarani e Portuguesa, se sentiram prejudicados pela falta de critério técnico na definição dos participantes da Copa União e muitos falaram que era uma “virada de mesa”.

CBF
Com presidente e vice que não se entendiam, a entidade estava desgovernada, sem força política e em crise financeira. Não tinha mais condições de segurar a vontade dos clubes de se organizarem por conta própria.

CND
O Conselho Nacional de Desportos foi criado por Getúlio Vargas para regular os esportes de competição no Brasil. Era o meio de o governo interferir no esporte, mas, na metade da década de 1980, o CND era presidido por Manuel Tubino e tinha uma visão mais progressista, incentivando o aumento de autonomia dos clubes. O órgão foi extinto em 1993, no governo de Itamar Franco.

Patrocinadores
Globo, Coca-Cola e Varig viram na Copa União o primeiro Campeonato Brasileiro em torno do qual haveria uma grande mobilização nacional. Assim, apoiaram o Clube dos 13 e criaram diversas ações de marketing específicas para a competição.

UM PARA LÁ, DOIS PARA CÁ

A dança de clubes que participariam do Brasileirão de 1987 foi bastante confusa. Veja como seu time fez parte desse vaivém:

Pela Copa Brasil 1986, os seis primeiros de cada grupo da segunda fase teriam vaga no Brasileirão do ano seguinte. Com a briga na Justiça entre Joinville, Vasco e Portuguesa, a CBF determinou que seriam os sete primeiros de cada chave.

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América-RJ, Atlético-GO, Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Bangu, Ceará, Corinthians, Criciúma, Cruzeiro, CSA, Flamengo, Fluminense, Goiás, Grêmio, Guarani, Internacional-RS, Internacional-SP, Joinville, Náutico, Palmeiras, Portuguesa, Rio Branco-ES, Santa Cruz, Santos, São Paulo, Treze e Vasco

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Com a desistência da CBF organizar a competição, o Clube dos 13 decidiu realizar seu próprio campeonato

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Atlético-MG, Bahia, Botafogo, Corinthians, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Grêmio, Internacional, Palmeiras, Santos, São Paulo e Vasco

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O Clube dos 13 ainda convidou as três equipes mais populares de Estados que não tinham vaga na Copa União para tornar a competição mais nacional.

V

Coritiba, Goiás e Santa Cruz

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A CBF decidiu organizar o Módulo Amarelo com os clubes que se classificaram entre os 28 da Copa Brasil 1986 e não estavam na Copa União. Ainda convidou Sport e Vitória.

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América-RJ, Atlético-PR, Atlético-GO, Bangu, Ceará, Criciúma, CSA, Guarani, Internacional-SP, Joinville, Náutico, Portuguesa, Rio Branco-ES, Sport, Treze e Vitória. Em protesto pela exclusão na Copa União, o América-RJ não disputou o Módulo Amarelo.

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Para definir os 24 participantes da Copa União de 1988 (já organizada pela CBF), foram utilizados os participantes do Módulo Verde de 1987 e dos oito primeiros do Módulo Amarelo. A exceção foi o América-RJ, que ficou com a vaga da Internacional-SP como compensação pelo ano anterior.

V

América-RJ, Atlético-MG, Atlético-PR, Bahia, Bangu, Botafogo, Corinthians, Coritiba, Criciúma, Cruzeiro, Flamengo, Fluminense, Goiás, Grêmio, Guarani, Internacional, Palmeiras, Portuguesa, Santa Cruz, Santos, São Paulo, Sport, Vasco e Vitória

OBS.: reportagem originalmente publicada na edição nº 15 (maio de 2007) da revista Trivela. Na internet, disponível em http://www.trivela.com/Conteudo.aspx?secao=45&id=16544.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Hexa!


DESCULPEM, MAS NÃO HÁ PALAVRAS QUE TRADUZAM COM FIDELIDADE O SENTIMENTO QUE ESSES CARAS AÍ DE CIMA PROPICIARAM A MILHÕES DE BRASILEIROS NESTE DOMINGO, 6 DE DEZEMBRO DE 2009.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Há algo de podre no reino da paulistada

Há algo de podre ganhando corpo na imprensa não-carioca, e que tende a se materializar a partir de domingo, por volta das 19 horas.

Se o script não sofrer alterações sobrenaturais e o Flamengo conquistar o campeonato, uma avalanche de "indignações" dos ditos especialistas, principalmente entre os de fora do Rio, pode se alastrar em rádios, jornais, televisões e na internet.

Pelo pouco que li e depreendi nesta semana em vários sites e blogs, os caras estão moldando um discurso pseudo-ético que tem como objetivo desmoralizar o provável sexto título nacional rubro-negro.

A ideia, se bem entendi, é deixar claro que teremos em 2009 no Brasil um campeão de fato e um campeão moral, cuja carapuça pode caber em cabeças coloradas, palmeirenses ou são-paulinas.

Algo muito próximo daquele discurso da Copa de 1978 criado por Claudio Coutinho, para designar que o campeão da ética e da moral acabou não levantando a taça no último jogo.

No caso deste Brasileirão, os "campeões morais" estariam a quilômetros de distância do Maracanã, bem longe da festa que promete tomar conta do estádio, da cidade e de boa parte do país.

O absurdo tem como estratégia reduzir o possível titulo do Flamengo de domingo a uma espécie de subconquista, forjada muito mais na boa vontade dos outros do que nos méritos nossos.

Um movimento nefasto que promete ressuscitar discursos nazi-paulistas muito usados nos dois últimos títulos brasileiros do Rio (2000 e 1997), quando a queda do alambrado de São Januário e o efeito suspensivo pró-Edmundo foram muito mais importantes, para eles, do que o brilho das campanhas do Vasco da Gama.

Enfim, bastou uma nova conquista carioca se avizinhar que o "entreguismo" vai ser o grande protagonista desse campeonato. Foda-se a melhor campanha, o maior número de vitórias, a artilharia, a arrancada...

O Flamengo não poderá ser campeão na bola. O Rio não pode ganhar como todos os outros ganham. Tem que ser roubado, ponto.

Já estou me preparando para a quantidade infindável de abobrinhas que virá por aí. Ai meus ouvidos!