quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Bohemian Rhapsody


Tolice resenhar a cinebiografia de Freddie Mercury a partir de anacronismos episódicos ou limpadas de barra na vida-louca-vida de um rockstar que mergulhou no limite (mesmo) em tudo o que pode, com quem quis. O filme, acima de qualquer coisa, tem o espírito familiar de uma sessão da tarde pra curtir com pipoca e fazer chorar nos números musicais irretocáveis – o final é apoteose pura. Acaba que importa rigorosamente nada a versão no sex and low drugs retratada do maior frontman da história do pop rock. O personagem gigantesco, maior que a sua banda e seus próprios hits, está devidamente representado na tela para as velhas e as novas gerações. Filmaço.

sábado, 17 de novembro de 2018

Um ano


365 dias, algumas horas, muitos minutos, tantos e tantos segundos...

No dia 17 de novembro de 2017, um novo capítulo se abriu no meu livro. Tudo o que se fala sobre “rito de passagem”, “divisor de águas”... Foi o que se passou comigo em um consultório ortopédico naquela sexta-feira ensolarada, quando entrei levando uma ressonância de uma possível inflamação no menisco e saí com o diagnóstico de uma lesão tumoral. Atrás do receituário, duas linhas curtas: “Oncologistas Associados / (21) xxxx-xxxx”.

Um aperto de mão um tanto sem jeito do médico e um recado: “ligue agora e marque com urgência já para segunda-feira, depois me dê notícias”. E aí você fecha a porta da ante-sala, se põe estático no meio de um corredor de escritórios escuro e enorme e se dá conta que toda a sua vida vivida até 15 minutos atrás já não existe mais como era antes. Surgem o pavor, o medo, os fantasmas e as lágrimas, muitas lágrimas. Dali pra frente era a certeza de que uma nova fase estava começando, sob um clima nebuloso de várias incertezas. Cadê o chão que estava aqui?

O que se passou nas semanas seguintes foi um filme de terror diário e silencioso, misturando negação da realidade, auto-negligência e um corte brusco em qualquer tipo de perspectiva a curto prazo. Planos? Como? Para que? Até quando?

Curiosamente, esse clima nefasto começou a virar justamente numa sexta-feira de carnaval, data que ao longo da vida me proporcionou incontáveis alegrias e celebrações. Neste ano, porém, ao dar entrada no hospital para internação já de posse do diagnóstico preciso – e padecendo dos sintomas da doença –, era o sentimento de esperança que dava as caras pela primeira vez desde que tudo começou. Finalmente estava começando o meu tratamento.

A partir daí a cabeça muda o rumo da prosa, o espírito se regenera de fé e encorajamento e as coisas começam a acontecer. O milagre do poder da crença se fez presente ao longo dos meses de tratamento intensivo que se seguiram, incluindo seis ciclos de quimioterapia com internações de uma semana cada – um total de 576 horas de bolsa vermelha na veia! – e, posteriormente, um mês de radioterapia. Pesado, né? Sem dúvida, mas a força positiva do lado de cá foi maior, muito maior.

Amparado pelas pessoas fundamentais da vida durante toda a jornada, além de escoltado por um Deus amigo e misericordioso, a gente acaba descobrindo forças (físicas e principalmente mentais) que jamais imaginou ser capaz de ter. Esse é um dos muitos legados que ficam: saímos não apenas mais cascudos de um processo como esse, mas mais conhecedores de nós mesmos. Existe hoje um Oldon no mundo que em muitos aspectos eu mesmo não reconheceria tempos atrás. Muito mais corajoso, muito menos apegado a coisas, bastante renovado espiritualmente.

Uma semana depois daquela consulta ao ortopedia, que hoje faz um ano, eu vim ao Santuário de Aparecida pela primeira vez para clamar por ajuda, pela maior de todas as graças que me pudesse ser concedida. Vim em silêncio, sem avisar a ninguém sobre o que já se passava na minha vida. Pois hoje eu volto fundamentalmente para agradecer, por tudo. Pelo livramento, pelas oportunidades concedidas, pela fé inabalável que me move desde que me entendo por gente, pela família abençoada que me dá suporte e apoio em todos os momentos, pelo Deus bom e generoso que em mim habita.

Agradecer. Apenas agradecer, hoje e sempre.

E vida que segue!

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Agradeço a Deus, à Virgem Maria, à Nossa Senhora Aparecida, ao meu Santo Expedito.

À minha amada mãe Maria José, à minha esposa Priscilla, ao meu filho Theo, à minha irmã Polyanna, aos meus sobrinhos Lucas e Valentina, à minha sogra Mary, aos meus familiares, aos meus amigos e às minhas amigas.

Em memória de meu pai Agnaldo e de meu sogro Célio.

Amém

🙏🏼❤️🙌🏼

segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Museu Nacional (1818-2018)


A perda do Museu Nacional é irreparável, incalculável e inestimável para um país com tão pouco apreço por memória, história e ciência. A completa devastação em chamas do acervo de 20 milhões de itens – o maior e mais rico do continente – jamais poderá ser reposta, não só pela diversidade de peças, mas especialmente pelo seu vasto conteúdo histórico, cujo valor não pode ser dimensionado em cifras. De esqueletos completos de répteis e outros animais pré-históricos ao fóssil do humano mais antigo já localizado em solo brasileiro, o Museu Nacional completava ainda extenso material astrofísico, como meteoritos; coleções de civilizações antigas, como múmias egípcias; e parte importante da história do período imperial do Brasil, como documentos e artefatos. Uma reunião de riquezas imensuráveis que já não estão mais entre nós. A tristeza pela catástrofe, entretanto, logo se transforma em indignação quando se observa o descaso ao qual a instituição foi submetida ao longo de muitas décadas, resultando em recursos escassos, na precarização da infraestrutura e no tratamento indiferente por parte do poder público. Nem mesmo os parcos R$ 600 mil anuais para a manutenção básica do palácio situado na Quinta da Boa Vista vinham sendo repassados na sua integralidade, dado os cortes cada vez mais severos no orçamento federal, ano após ano. Fruto disso, apenas uma parte ínfima do gigantesco e precioso acervo ali reunido estava aberto à visitação pública. Engano imaginar que apenas o fogo foi capaz de destruir 200 anos de história. O descaso e a omissão constantes de governos e governantes, por décadas a fio, são tão ou mais responsáveis que as poucas horas de um incêndio devastador. Havia a expectativa que um investimento emergencial na casa dos R$ 21 milhões, a serem repassados pelo BNDES, pudesse impedir o que, aos olhos de quem trabalhava diariamente nas instalações, se avizinhava como uma tragédia prestes a acontecer. Não deu tempo. Diante das cinzas do que já é ruína, agora fica tarde demais para que as autoridades lamentem a destruição de um marco da cultura nacional. Esse triste papel cabe apenas e tão somente à população órfã, e em particular aos vários servidores que dedicaram uma vida de trabalho ao Museu Nacional. Meus sentimentos.

sexta-feira, 6 de julho de 2018

O pragmatismo parou nos belgas


No saldo final da participação brasileira na Copa do Mundo da Rússia ficam muitos questionamentos em torno dos erros capitais da derrota fatal em Kazan contra a Bélgica. Do outro lado, algumas poucas certezas – a principal delas é a de que Neymar, maior craque do time e da sua geração, sai do Mundial menor do que entrou, tanto pelo futebol meia-boca quanto pelas polêmicas em série. No conjunto dos cinco jogos disputados (três vitórias, um empate e uma derrota; oito gols a favor e dois contra), e considerando o desempenho em alto nível que a equipe apresentou num passado recente, a participação do Brasil na Copa de 2018 soa discreta e limitada.

Tecnicamente o time foi correto – embora jamais brilhante – apenas nos noventa minutos contra a Sérvia e no segundo tempo frente ao México. Por outro lado, se viu um Brasil que capengou contra a Suíça, que conquistou uma vitória na base do abafa – já nos acréscimos – contra a fraquíssima Costa Rica, que tomou sufoco em metade do jogo contra os mexicanos e que foi eliminado incontestavelmente quando pegou pela frente um oponente de qualidade. Contra a Bélgica, o primeiro e mais importante ponto a se ressaltar é a contribuição das atuações ruins de Neymar, Coutinho, Willian e Fernandinho para a derrota. Figuras que, num bom dia, poderiam fazer a diferença a favor.

Além de componentes do jogo para a derrota, há também um aspecto decisivo para o fracasso da seleção brasileira: Tite sentiu o peso da Copa do Mundo. Talvez pela inexperiência, possivelmente pelo excesso de pragmatismo, o treinador levou ao fim e ao cabo uma filosofia de pontos corridos para um torneio de tiro curto, onde as necessidades de adaptação aos fatos são prementes e não podem se submeter a caprichos ou teimosias. O técnico e sua equipe se trancaram num ideário pouco afeito a mudança de planos de acordo com as circunstâncias. Numa competição com no máximo um mês de duração, esse cabresto ideológico se mostrou fatal.

O exemplo mais evidente dessa visão limítrofe passa pela injustificável manutenção de Gabriel Jesus como titular até o quinto jogo, algo incompreensível sob qualquer aspecto – inclusive o da tal “função tática” usada como explicação para mantê-lo entre os onze eleitos. “Roberto Firmino está pedindo passagem” foi frase corrente na boca de analistas e torcedores durante toda a Copa, dada a ótima fase vivida pelo atacante do Liverpool. Por que não dar uma chance a uma alteração óbvia, clara, levando-se em conta a inoperância de um centroavante titular que não faz gols? A pergunta vai ficar por muito tempo, talvez sem nenhuma resposta convincente.

Por outro lado, se viu nessa jornada russa pouca ou quase nenhuma variação do esquema de jogo em função do adversário a se enfrentar. Era previsível que o contra-ataque belga, puxado por jogadores do calibre de Hazard, De Bruyne e Lukaku, traria muitas dificuldades para o sistema defensivo, ainda mais com a ausência de Casemiro como cão de guarda à frente da zaga. Não seria o caso de fechar mais o meio com dois volantes de contenção (Fernandinho e Fred) ao invés de manter a mesma configuração super-ofensiva com Willian, Coutinho, Neymar e Jesus, além de um Paulinho sem poder de marcação, flutuando perdido no meio?

A eliminação brasileira nas quartas de final é decepcionante muito em função da expectativa criada com o trabalho desenvolvido pelo treinador desde que assumiu uma seleção em frangalhos, sem apoio da torcida, sem moral depois do 7x1 e sem traço algum de bom futebol. Os méritos inegáveis apresentados por Tite durante as Eliminatórias, montando um time competitivo e eficiente, eram aguardados com alta expectativa justamente no filé mignon desse ciclo. O que se viu na Rússia, entretanto, foi um Brasil de atuações bem abaixo do esperado, sem alternativas táticas, com desempenhos técnicos (coletivo e individuais) aquém do previsto e um modelo de jogo estanque, preso a uma ideia única, fixa.

Para o professor Adenor Bachi, que se auto-designa um “gestor de pessoas dentro do universo do futebol”, fica a lição amarga da perda de um Mundial de grandes surpresas para as camisas gigantes. Isso, claro, no caso de ele ter uma nova oportunidade no Catar em 2022. Para a seleção brasileira, que irá para longos vinte anos de jejum em Copas do Mundo, a necessidade de renovação de nomes no grupo de jogadores talvez seja o item primordial no ciclo de quatro anos que em breve irá se iniciar, seja quem for o técnico responsável por liderar uma nova jornada em busca do hexacampeonato mundial. Veremos o que vem pela frente.

terça-feira, 15 de maio de 2018

Superman II: The Richard Donner Cut (2006)


A morte da atriz que eternizou a super-mocinha Lois Lane na sétima arte, Margot Kidder, no último dia 13 de maio aos 69 anos, joga luz indiretamente para um capítulo ainda obscuro da filmografia narrativa da saga do filho de Jor-El em terras humanas. Trata-se do corte de “Superman II” assinado e lançado por Richard Donner 26 anos após a película original vir ao mundo, em 1980.

Realizador do antológico “Superman: The Movie” (1978) – volta e meia apontado como o melhor filme de herói de todos os tempos –, Donner também era o diretor da sequência, mas acabou ceifado do comando do projeto pelos produtores durante as filmagens. Para o seu lugar foi escolhido Richard Lester, diretor do primeiro beatle movie, “A Hard Day’s Night” (1964).

Na prática, o substituto se aproveitou de quase todo o material que já fora rodado pelo antecessor para subverter o espírito do roteiro original, criando um clima de comédia pastelão onde, em princípio, haveria a profundidade e a tensão vista na trama que abre o projeto Superman.

Apesar de bem sucedido nas bilheterias, o resultado final de “Superman II - A Aventura Continua” foi um conjunto de críticas impiedosas por parte da imprensa e um clima de alguma coisa feita às pressas, muito longe do apuro cinematográfico visto no primeiro filme.

Recuperando cenas suas não aproveitadas e retirando outras de Lester que destoavam da visão única que tinha para os dois primeiros filmes da série – não por acaso feitos ao mesmo tempo –, Donner corrige em forma e principalmente conteúdo o percurso “alternativo” da segunda aventura do Homem de Aço nas telas.

Questão acima de tudo de justiça histórica, “Superman II: The Richard Donner Cut” garante a continuidade adequada e coerente com o enredo bem amarrado que Donner imaginou e realizou para eternizar nas telas o mais popular de todos os super-heróis dos quadrinhos.

Imperdível.

quinta-feira, 19 de abril de 2018

A gestão off-futebol

Todos nós flamenguistas, de uma forma ou de outra, em algum momento ao longo dos cinco anos e pouco dessa gestão, nos iludimos com as perspetivas encantadoras trazidas por frases de efeito como “o ano mágico que vai chegar”, “a potência que está surgindo”, “os outros vão comer poeira atrás da gente”, “endinheirado e estruturado, ninguém vai segurar o Mengão” e por aí vai.

Muito desse discurso, registre-se, insuflado por membros da diretoria ao longo desses cinco anos e pouco.

Acontece que a realidade trouxe um cenário diferente de tudo isso, refletindo-se em derrotas inesperadas, fracassos que não combinavam com o quadro pintado a ouro e decepções sucessivas, fora do esquadro que fez muitos torcedores ignorarem que futebol se ganha dentro de campo, com qualidades que muitas vezes nem todo dinheiro do mundo pode comprar.

Dos mais crentes aos mais céticos, muitos de nós acabamos nos deixando levar por um ar de arrogância que jamais combinou com a história de suor de povo do manto rubro-negro.

Trabalhar com mais uma possibilidade real de novo baque – a humilhação monstra de uma quarta eliminação seguida na suposta prioridade do calendário – só vai expor ao famigerado arco-íris (das torcidas adversárias à imprensa anti) mais um dos inúmeros erros na condução do carro-chefe do Flamengo, justamente em um momento importantíssimo de reconstrução em diversas outras áreas do clube.

Uma ironia cruel para o torcedor que se permitiu sonhar acordado antevendo um domínio que nunca, jamais chegou perto de existir na realidade. Desilusão é o nome disso.

A gestão Bandeira de Mello, com todos os seus inegáveis méritos administrativos, também será cobrada no curso da história pelos seus deméritos quando o assunto for campo e bola – afinal, como diz o apolinho Washington Rodrigues, o Flamengo nada mais é do que um gigante que se alimenta de vitórias.

Que elas possam voltar, no campo e na bola, com pouco ou muito dinheiro, mas sempre com a mítica alma rubro-negra, a partir do ano que vem.

SRN