domingo, 21 de dezembro de 2008

Atchimmm... na minha casa ou na sua?

Da série "Notícias bizarras e suas manchetes maravilhosas":

BBC Brasil: Espirro pode ser sinal de excitação sexual, diz estudo

Só queria saber o que diabos um médico ganha tentando constatar esse tipo de coisa – além de ódio de quem está gripado, claro.

O próximo passo desta importante escalada da ciência moderna deve ser a comprovação de que coçar o olho esquerdo às segundas-feiras significa tendência ao adultério.

O que vai ter de neguinho com conjuntivite apanhando em casa...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

A ingratidão de um pilantra

Prometi pra mim mesmo que não gastaria uma linha deste humilde espaço virtual pra falar da cafajestagem protagonizada esta semana pelo comedor de travecos. Mas não resisti.

Confesso que fiquei tentado quando vi que a revolta da Nação Rubro-Negra tinha ecoado no Velho Continente, a ponto de o Marca, principal jornal esportivo da Espanha, ter se inspirado na safadeza do Judas de Bento Ribeiro para criar uma lista com as vinte maiores traições da história do futebol.

Pois o pilantra da Praça do Ó, pra mim, é no mínimo top five da relação abaixo.

1) Figo - do Barcelona pro Real Madrid
2) Roberto Baggio - da Fiorentina pra Juventus
3) Ruggeri - do Boca Juniors pro River Plate
4) Sol Campbell - do Tottenham pro Arsenal
5) Batistuta - do River Plate pro Boca Juniors
6) Romário - do Flamengo pro Fluminense, antes passou pelo Vasco da Gama
7) Cruyff - do Ajax pro Feyenoord
8) Caniggia - do River Plate pro Boca Juniors
9) Hugo Sánchez - do Atlético de Madrid pro Real Madrid
10) Mo Johnston - do Celtic pro Glasgow Rangers, antes passou pelo Nantes
11) Tardelli - da Juventus pra Internazionale
12) Luis Enrique - do Real Madrid pro Barcelona
13) Krancjar - do Dinamo Zagreb pro Hajduk Split
14) Paul Ince - do West Ham pro Manchester United
15) Laudrup - do Barcelona pro Real Madrid
16) Aldo Serena - do Torino pra Juventus
17) Cáceres - do River Plate pro Boca Juniors
18) Denis Law - do Manchester United pro Manchester City
19) Schuster - do Barcelona pro Real Madrid
20) Gatti - do River Plate pro Boca Juniors
Fonte: http://www.marca.com/edicion/marca/futbol/internacional/es/desarrollo/1191246.html

Deixa estar, o que é dele está guardado.

Termino esse assunto (espero não mais voltar a ele) com um pensamento do meu nobre xará do Cosme Velho, um dos patronos do Blog do Oldon:

"A ingratidão é um direito do qual não se deve fazer uso"
Machado de Assis

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Os gigantes: a nova ordem do futebol brasileiro








Meu avô e xará Oldon Machado, do alto da sua sapiência de anos de estrada, gostava de dizer: "Não importa quem está certo ou errado: só entre numa discussão se você tiver um bom argumento para usar". Quando se tem dez ou onze anos a frase mais parece um enigma, mas à medida que a barba cresce e as brincadeiras ficam mais sérias, dá para entender o que ele queria dizer.

Tenho pensado nisso nos últimos finais de semana, sempre após o São Paulo dar os seus sólidos e largos passos rumo a mais um título de campeão brasileiro.

Antes do argumento, vamos à discussão: a quase totalidade da crônica esportiva brasileira, dos fanfarrões das rádios AM aos renomados "pensadores", repetem desde os tempos de mil novecentos e Friedenreich que o Campeonato Brasileiro é e sempre foi o mais equilibrado do mundo, mesmo se comparado aos dos grandes centros europeus. E de onde vem o tal equilíbrio? Daquilo que eles eternamente exaltaram como sendo um "nivelamento por cima" – ou seja, da possibilidade de uma dúzia de times poder ser apontada como postulante ao título no início de cada certame.

Se pegarmos historicamente as edições dos campeonatos brasileiros desde 1971, e mesmo nos tempos do Robertão e da Taça Brasil, realmente podemos constatar certa alternância de poder entre os detentores de títulos. Se por um lado sempre tivemos os favoritos de sempre, e que realmente acabaram fazendo jus a tal honraria – cito entre eles Internacional, Corinthians, Palmeiras, Vasco, entre outros – temos times que chegaram lá apenas uma vez, às vezes desacreditando até mesmo os seus torcedores. E aqui dá para citar Botafogo, Bahia, Atlético Paranaense, Fluminense, Coritiba (tendo como vice o Bangu!)... Isso para não citar o Sport, que divide o título de 1987 com o Flamengo.

Pois a partir daqui é que começo a argumentar: o tal do "equilíbrio que só o campeonato brasileiro tem" nunca existiu, de fato, pelo lado dos times. O nivelamento e a conseqüente chance que tínhamos de ver um campeão fora dos padrões sempre veio da fórmula da competição.

A disputa no modelo de fases, que em suas mirabolantes variâncias sempre desaguava em algum tipo de mata-mata, permitia que um time medíocre numa primeira etapa ganhasse corpo e confiança numa fase seguinte, e embalasse de tal forma a conquistar a taça. O engraçado é que essa receita de crescer no final não se aplicava só aos menos cotados, mas também a times "grandes", que tinham como característica o poder do atropelo. Quem nunca ouviu a célebre frase "não deixa o Flamengo chegar que se não..." (o que era uma bobagem, pois aquele time não ganhava apenas pelo embalo, mas principalmente pela excelência).

O cenário desse tradicional nivelamento que se aflorava com o mata-mata começou literalmente a morrer em 2003, com a chegada dos pontos corridos ao Brasil. Em que pese um início com três diferentes campeões – Cruzeiro, Santos e Corinthians –, começamos a ver de forma mais clara, a partir do tricampeonato do São Paulo, um fenômeno que na cabeça e opinião deste humilde missivista se concretizará dentro de alguns anos: a segmentação entre grandes e gigantes.

E aqui entra o realmente quero argumentar.

Com a desculpa do equilíbrio de forças proporcionado pelos campeonatos em mata-mata, a crônica esportiva, e por tabela os torcedores, sempre se furtaram a questionar de maneira mais veemente quem de fato seriam os maiores entre os maiores times do Brasil. Com a conveniência de não se indispor com legiões de apaixonados país a fora, muita gente sempre colocou dentro do mesmo saco os tidos doze grandes: Fla, Flu, Bot, Vas, Cor, Pal, São, San, Cru, Atl, Int e Gre. Ou seja, aos olhos desses, é todo mundo igual e não se fala mais nisso. Os confrontos são todos clássicos. Ponto!

O problema é que os pontos corridos já começaram a mudar essa lógica, e com o passar dos anos vão mudar muito mais. Não só em função da fórmula, mas principalmente em função da fórmula, logo logo muita gente será obrigada a relativizar a real grandeza dos nossos grandes.

Partamos para um exemplo prático: em 1977, São Paulo e a Atlético Mineiro, finalistas daquele ano, eram de fato equivalentes. Ambos sem tradições internacionais, apenas um título brasileiro para cada lado (o do tricolor ganho naquela decisão), um punhado de estaduais aqui, outro ali... Enfim, dois times grandes e tradicionais.

Agora pule 31 anos e chegue em 2008. Sinceramente, dá para colocar os dois clubes na mesma prateleira? Se você não for da metade alvinegra de Minas Gerais, a resposta é evidente: não! Enquanto vimos o Galo nesse período se esmerar horrores para levantar uma única Copa Conmebol, o time do Morumbi acumulou no período três Mundiais Interclubes (sendo um da Fifa), três Libertadores, duas Recopas Sulamericanas, uma Supercopa da Libertadores, uma Copa Conmebol, seis Campeonatos Brasileiros... A discrepância é absurda, colossal, interplanetária, mas a maioria ainda se furta a colocar os pingos nos is e prefere simplesmente reduzi-los à alcunha de "grandes clubes do Brasil". Um até pode ser, mas o outro está em patamar claramente diferenciado.

A comparação mais óbvia que se pode fazer é com o futebol europeu. Lá, e em qualquer outro lugar, a segmentação entre os grandes e os gigantes é facilmente perceptível, e tem como base o critério lógico dos títulos acumulados. Estando em Paris, experimente perguntar a um francês quais os maiores times de futebol da Itália. Ele certamente não se furtará a apontar Milan, Internazionale e Juventus. Roma, Lazio? São grandes, mas notoriamente estão em outro patamar. Questione um londrino sobre os gigantes espanhóis. A chance de ser citado outro que não Real Madrid e Barcelona é perto de zero. Sonde um milanês a respeito da primeira fila do futebol inglês e ouça em alto e bom som: Manchester United, Liverpool e Arsenal. Chelsea? Grana e pompa de mais, história e títulos de menos. Também é o caso dos nossos hermanos, cuja casta maior não passa de Boca Juniors, River Plate e Independiente.

Agora eu pergunto: por que tanto temor, reticência ou rodeio quando se responde sobre quais são os times top do Brasil? Difícil? Hoje nem tanto, e daqui a alguns anos não será nem um pouco. Lá pelo Brasileirão de 2013 ou 2014 já teremos um retrato fiel da nova ordem do futebol brasileiro, na qual os grandes e tradicionais times estarão clara e evidentemente diferenciados de uma nata restrita, composta por aqueles que orbitam no seleto grupo dos líderes do futebol mundial. O São Paulo, hoje, é o único a passear nessa avenida, e certamente permanecerá nela por décadas.

Sobre os outros dois, no máximo três, a briga será para ver quem entre Santos, Corinthians, Flamengo, Palmeiras, Internacional, Grêmio, Vasco e Cruzeiro terá capacidade (em todos os sentidos) para ultrapassar a barreira da tradição e colocar-se um nível acima de todos os outros – inclusive dos grandes.

Vivamos e vejamos, pois.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pela hora da morte

O efeito não era para ser exatamente esse quando o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, conclamou ao americanos: "Comprem!":

Estadão.com.br – Funcionário do Wal Mart morre pisoteado em liqüidação

Fico imaginando a reação em geral se isso acontecesse no Brasil, mais precisamente na 25 de Março ou no Mercadão de Madureira. "Ô povinho mal-educado!" seria o mínimo.

Pois é...

sábado, 22 de novembro de 2008

Pra que tanta notícia?

Até pouco tempo atrás, costumava digerir meu café da manhã a caminho do trabalho sintonizando no rádio emissoras de notícias. Longe de ser um hábito, por assim dizer, recomendável. Não digo isso nem pela questão física da coisa, mas pela possibilidade de ingerir involuntariamente desgraças humanas de toda sorte pouco depois de degustar fatias de mamão e nacos de queijo. Mesmo não havendo relação direta entre uma coisa e outra, acaba sendo algo não muito animador num início de dia.

Essa semana aconteceu algo assim. Indo para o trabalho, trânsito caótico como de costume, sou abduzido pela seguinte manchete no Repórter CBN: "Menina de cinco anos é morta em subúrbio do Rio pela própria mãe. Em depoimento à polícia, ela alegou que cometeu o crime porque a criança estava possuída pelo demônio". Indigesto, não? Não há muito que comentar diante de tamanha bestialidade, a não ser dois ou três xingamentos que são tão naturais quanto o sentimento de revolta.

Eis que no dia seguinte, engarrafado em mais um trânsito caótico, após mais um café com pão, ao som da mesma CBN, o locutor traz a seguinte "informação": "Polícia encontra criança de oito anos morta no interior da Bahia. Família é suspeita de ter assassinado o menino em ritual satânico". Aí não teve jeito, eu tive que fazer como aquele sujeito que, após encontrar a mulher pela sexta vez com o amante no sofá, resolve tomar uma atitude e vende o sofá: desliguei o rádio.

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Não queria terminar o post dessa maneira, dando a impressão de estar fazendo uma piadinha cretina com tragédias brutais alimentadas por fanatismos de toda ordem. No entanto, a reação imediata que eu tive ao fugir das notícias ruins, simplesmente renegando – pelo menos momentaneamente – os veículos que as divulgam, me parece uma saída honesta num momento de saturação (e olha que quem escreve essas linhas é um militante da profissão). Isso me remete àquele trecho de "Alegria, Alegria", do Caetano: "Pra que tanta notícia? / Eu vou...".

É isso. É muita notícia, muita informação sendo bombardeada por aí hoje em dia, sob a falsa tese de que "no mundo globalizado tudo é notícia e todo mundo tem que saber". Tudo o quê? E essa massificação da informação, vem a troco de quê? O que me agrega saber que uma mãe absolutamente desequilibrada mata uma filha de cinco anos motivada por alucinações diabólicas? Qual a finalidade de se saber sobre o assassinato de uma criança de oito anos, pela própria família, numa festa macabra – se não vomitar questionamentos na internet, como faço agora?

Eu simplesmente NÃO preciso dessas notícias para me sentir minimamente bem informado.

Ainda que seja uma fuga vazia, inútil – afinal, a realidade bate a nossa porta sem pedir licença –, atualmente prefiro seguir meus caminhos sem o canhão dos fatos em tempo real, e com a ilusão silenciosa de que nada de muito horripilante está acontecendo lá fora do carro. Mesmo sabendo que a sensação termina no momento em que se chega ao ponto final e partimos pra mais um dia de luta.

Vida que segue...

domingo, 16 de novembro de 2008

Céu + Sol + mar + Maraca = domingo no Rio

Sugestão de som: "Praia e Sol", do Bebeto.

Praia e Sol
Maracanã, futebol
Domingo!



Praia e Sol
Maracanã, futebol
Que lindo!


Domingo eu vou ver meu time jogar
Tomara que ele saiba ganhar
Se souber vai ser muito bonito
Ver de alegria o povo sorrindo


Que maravilha essa vida maneira
Tem gente ai que ainda não viu
Como é gostoso esse sol quando brilha
Iluminando esse imenso Brasil!



O Rio sempre está lindo
Com meu amor eu vou indo
A brisa fresca batendo
No lindo corpo moreno



Brincar ao sol no mar
Depois sambar sambar
Sambar, sambar, sambar
Brincar ao sol no mar


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Não há outono em Nova York, inverno em Paris ou primavera de Praga que faça frente a um autêntico dia de verão no Rio.

É aquele cartão-postal que muitos intelectuais odeiam e torcem o nariz em se tratando de Brasil, mas que nós, cariocas, assumimos com todo o orgulho do mundo – talvez pela consciência do deslumbre incomparável do cenário que nos cerca. Esse é o Rio.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A primeira vez a gente nunca esquece

Estive duas vezes com Dilma Rousseff de forma "exclusiva", enquanto repórter do site CanalEnergia. Nas duas – quando do lançamento da MP que daria origem ao Novo Modelo do Setor Elétrico, em 2003, e outra logo depois, em 2004 – fui muito bem recebido por ela, de tal forma que em menos de cinco minutos caiu inteiramente por terra a armadura invisível que a envolvia na minha imaginação. As duas entrevistas foram das melhores que já fiz, renderam bem mais do que tinha pautado. O mérito foi todo dela, que falou muito e bem.

No final daquele mesmo ano de 2004 participei da bancada de entrevistadores do programa Roda Viva (TV Cultura), que tinha a então ministra de Minas e Energia no seu centro. Ao contrário das duas vezes em que visitei seu gabinete em Brasília, ali eu não estava, por assim dizer, tenso. Eu estava era apavorado! – e não tinha nada a ver com a entrevistada. O negócio era a televisão. Antes de entrar no estúdio, eu estava mais ou menos como numa ante-sala de consultório de dentista: esperando a hora de cumprir uma obrigação (com a vantagem de não ter que ouvir aquele motorzinho insuportável). O problema foi quando eu tive que entrar no consultório – neste caso, o estúdio. Ai, amigo(a), o bicho pegou.

Pra quem não é habituée da telinha, a sensação de se ver como alvo central de uma câmera é inevitavelmente desconcertante. Quando você transpõe isso para um programa ao vivo, em rede nacional, conceituado e tido como formador de opinião, estando você na posição de um fomentador de opinião, aí não é desconforto não. É tremedeira mesmo.

O resultado dessa experiência interessante do ponto de vista jornalístico, e inesquecível para o gerente deste humilde blog, pode ser conferido no excelente site Memória Roda Viva, projeto desenvolvido pela Fapesp com o objetivo de decupar o arquivo de mais de 20 anos do principal programa de entrevistas do país. Buscando por "Dilma 2004" aparece o link para o texto com a íntegra da entrevista. Neste caso, como é texto, eu indico – porque se fosse o vídeo...

O site é http://www.rodaviva.fapesp.br/. Se estiver com tempo, dê uma olhada no arqivo. Tem coisas bem legais ali.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

I had a deam... and it came true!!!





E assim, numa noite de terça-feira, mais um capítulo da História foi escrito com as tintas da democracia, pelas mãos do povo. Que assim seja!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Waldick, um animal extinto

Hoje, 4 de novembro de 2008, faz exatos dois meses que Waldick Soriano resolveu cantar seus males de amor em outros cabarés.

A data dificilmente será alçada ao panteão dos grandes acontecimentos da música brasileira, pelo simples fato de Waldick não ter sido alguém pertencente à casta do que se entende por "músico brasileiro". Waldick era um cantor exclusivo das suas próprias músicas, apenas isso. Não tinha relação direta com linhagens tradicionais do cancioneiro popular, como o baião, o samba-canção e mesmo o que se produziu na Era do Rádio. Waldick bastava-se como um autêntico bolerista apaixonado, daqueles cuja existência, em tempos de estilo cool e vozinha baixa, está mais ameaçada que rinoceronte cinza em terras africanas.

Cerca de um ano antes de pedir o chapéu e partir, El Gran Soriano foi personagem de um projeto lindo, rico e cheio de emoção (sincera) pilotado por Patrícia Pillar. O trabalho rendeu um ótimo documentário curta-metragem, um DVD e um CD – este dois últimos gerados de um show marcante realizado em Fortaleza, produzido também pela atriz. Quando se assiste ao filme ou ao registro do espetáculo, mesmo não tendo o DNA musical do astro, percebe-se de imediato a concretização de um corajoso projeto. Melhor: de uma linda homenagem.

Tanto o curta quanto o DVD evocam espontaneamente uma aura de homenagem em vida a um artista cuja percepção sobre fazer e viver de música ficou muito acima das questões tecno-mercadológicas de hoje em dia. Envolto no tradicional terno preto e devidamente protegido pelos indefectíveis óculos escuros, Waldick era capaz de externar os mais profundos sentimentos da alma masculina mirando-se sempre em histórias de final triste. Numa hora era a amada ingrata que não correspondia aos seus apelos, noutra era a paixão arrebatadora e fugaz de uma noite no bordel.

Cantor fundamental na construção da identidade verdadeiramente popular da MPB, Waldick Soriano se firmou e reafirmou como intérprete de um estilo praticamente exterminado da canção nacional: o de quem vivencia ali, em pleno palco, suas histórias de amor mal-sucedidas. A maneira forte e passional ao narrar o sentimento era o que prevalecia. O chapéu levemente caído e o olhar cafajeste, somados à voz sempre potente e marcante, moldavam um tipo raro e hoje praticamente extinto na cultura musical brasileira.

O jovem sanfoneiro baiano já havia trabalhado como garimpeiro e lavrador quando resolveu se inspirar no faroeste “Durango Kid” para incorporar a figura mítica do durão apaixonado. Patricia Pillar tomou para si o desafio de reapresentar esse personagem aos que pouco ou nada sabem dele, e o encarou da maneira mais franca possível, sem preconceitos ou estereótipos. O resultado é o retrato de um artista que não carecia de maquiagens e melindres – talvez por ter tido a exata noção das várias e inegáveis qualidades que possuía.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sintomas da tragédia

Se você é candidato a presidente da maior potência do mundo (algo trivial), há certos momentos em que a sensação de derrota é tão evidente que nem mesmo apelar para os fãs da Oprah dá mais jeito. Eis um desses sinais inexoráveis:

G1 – Para grande maioria dos uruguaios, Obama é melhor que McCain

Fontes não-oficiais ligadas ao candidato republicano garantem que ele desiste da disputa ainda nessa segunda-feira, tamanho o baque sofrido com a adesão dos cidadãos deste importante país sul-americano ao adversário democrata.

Deve ser duro segurar uma barra dessas...

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Nylon

Essa eu presenciei hoje à tarde em plena Rua do Ouvidor, aqui no Centro do Rio. Acredite, aconteceu mesmo:

Figura A – Pô, o Michael (Jackson) era foda, né. Pena que sumiu...
Figura B – É mermo. Tinha outro cara dos anos 80 que também era muito foda. Putz, esqueci no nome dele...
Figura A – Qual? Prince?
Figura B – Não, era um que cantava aquela música, "Nylon".
Figura A – Como é que é, "Nylon"????? Não conheço, não.
Eu (pensando) – “Naylon”? Que porra de música é essa???
Figura B – É assim, ó: "Ou Nailon / Ou nait, Ou nait / Ou Nailon / Ou nait, ou naiiit..."
Figura A – Aaaaahhhhh, sei qual é. Maior somzão mermo...
Eu (chorando) – BRBRBRBRBRAAAAAHAHAHAHAHAHAHA!!!!!!!!!!!!!!

Pra quem não acompanhou a explicação refinada do infeliz, ele quis se referir à música "All Night Long", do Lionel Richie (se alguém ainda está perdido, clique aqui e veja o clipe).

Depois dessa, ainda sob fortes dores no abdômen de tanto rir, tive que me deleitar com um Ovomaltine do Bob's.

Afinal, hoje é sexta-feira.

E "Ou Nailon" pra você também!!!

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

E no velho e violento esporte bretão...

Globoesporte.com – Além do futebol, Rebeca Gusmão cogita se arriscar também na luta livre

Como já cunhou o ótimo Eduardo Bueno, o Peninha, ao começar a narrar a história do Grêmio: "Futebol-arte, todo mundo sabe, é coisa de veado".

Taí a Rebequinha pra confirmar a tese. E estamos conversados!

domingo, 26 de outubro de 2008

Paz (e juízo) para Paes. E Senado para Gabeira!


Não, não votei em Fernando Gabeira para prefeito em 2008 – embora esse mesmo Gabeira tenha tido o meu voto para deputado federal ao longo da minha vida de eleitor (1994, 1998, 2002 e 2006). Incoerência, contradição? Não vejo dessa forma. Encaro uma eleição majoritária de maneira muito distinta de um pleito proporcional. Acho que existem, sim, políticos mais talhados e hábeis para o trâmite de congressos e câmaras do que para missões administrativas.

Também não acho que isso tenha necessariamente a ver com "experiência", se o sujeito já ocupou ou não algum cargo executivo. Acho que tem a ver com perfil mesmo. Gabeira é um desses que me parece ter maior desenvoltura para o Legislativo. Eduardo Suplicy, por exemplo, é outro. Ambos são idôneos, gabaritados e hoje em dia quase inatacáveis por suas trajetórias e suas posturas, mas não os vejo como líderes administrativos na vida pública. Em se tratando de Rio e São Paulo então...

Por outro lado, sempre vi em Eduardo Paes alguém mais capaz de descascar o abacaxi tamanho Maracanã que é pilotar o Rio de Janeiro pós-César Maia. A cidade chegou a tal ponto de abandono, e seu atual gestor a tal nível de negligência, que a única coisa não apropriada neste momento – na minha modesta e humilde opinião – era apostar num enigma. Gabeira como prefeito, para mim, era uma figura enigmática.

E Paes? Tendo passado pela Subprefeitura da Barra e Jacarepaguá, Secretaria Municipal de Meio Ambiente e, posteriormente, de Esporte e Turismo, acho que ele tem bagagem como gestor e pode, de fato, atuar como um líder na reconstrução da cidade. Reconstrução, diga-se de passagem, serve para designar tudo: de conservação do patrimônio e da ordem pública, como tapar os milhares de buracos nas ruas, à aplicação de alguma política (uma só, que seja) de ocupação habitacional. Sim, falo das favelas.

A verdade é que estamos num clima de "pior que isso não dá". O Rio de Janeiro não pode mais se permitir perder tanto como vem perdendo, sob pena de não conseguir se sustentar como cidade. A chegada de Eduardo Paes pode mudar o rumo dessa prosa, e acredito que vá realmente mudar, pra melhor.

E, desde já, torço muito para que vingue a campanha "Gabeira senador 2010". Meu voto, nesse caso, ele certamente terá.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

A Fênix do Abaeté voltou. Dá-lhe negão!

Ó paí, ó! Fui eu duvidar da capacidade do Anjo Negro da Gávea (ver o post do dia 20 de outubro) e, logo no jogo seguinte, qual uma Fênix do Abaeté, envolto no abadá sagrado benzido pelos Orixás da bola, ele voltou em grande estilo ao tapete verde do Maraca.

Se ligue aí, meu rei! Obina, de fato, tem uma relação íntima com o tal do efeito-sanfona, não só pela sua luta de Hércules contra a balança, mas também quando precisa chegar junto da redonda e chamá-la de meu bem. Às vezes é um parto, e um simples domínio ou passe se transforma numa missão. Outras vezes, como na partida contra o Coritiba, o bicho se transforma e encarna um guerreiro dos bons, daqueles que lutam o tempo inteiro nos dois tempos, lançam, avançam, driblam e marcam - gols, que fique claro.

Espie só, negão: prometo que se você continuar assim pelos próximos sete jogos eu te pago um acarajé com pimenta no Largo do Rio Vermelho, em pleno sábado de carnaval.

Axé, babá!!!

terça-feira, 21 de outubro de 2008

A "Taça das Bolinhas" e a verdade da Copa União de 1987

Voltou à tona recentemente o imbróglio da famigerada Taça das Bolinhas, que supostamente tem o poder de decidir quem de fato foi o primeiro time a ganhar cinco títulos brasileiros, se Flamengo ou São Paulo. Embora ache que o objeto em disputa não valha nem um décimo do esforço que os dois clubes fazem pela sua posse, a discussão é válida e sempre pertinente. Passados 21 anos, muitas falsas verdades foram construídas com o objetivo de mascarar a verdade real dos fatos.

Antes de tudo, esclareço que sou flamenguista e tenho uma série de argumentos – incontestes ou não – para achar que o simples fato de se discutir a legitimidade do título conquistado por Zico & Cia em 1987 já é, por si só, um absurdo por completo. Aliás, sempre que exponho esses argumentos, percebo que o interlocutor que me contesta não consegue sustentar uma réplica para a sua posição.

Exponho abaixo alguns dos pontos de vista sobre aquela longínqua e conturbada Copa União e o seu verdadeiro campeão:

• Alguém, sinceramente, acredita na tese estapafúrdia, risível, insustentável, de que o Flamengo deixou de jogar um quadrangular com vice-campeão da Série A (Módulo Verde) e os dois finalistas da Série B (Módulo Amarelo) por algum tipo de temor ou coisa que o valha, tendo um time formado por (prepare-se): Zé Carlos, Jorginho, Leandro, Edinho e Leonardo; Andrade, Aílton e Zico; Renato Gaúcho, Bebeto e Zinho?

• Alguém acha mesmo que quaisquer dos outros 14 times que disputaram a Copa União, se chegassem àquela final, jogariam depois um torneio quadrangular contra equipes que nem sequer foram incluídas naquela competição?

• Alguém conhece, na história do futebol mundial, algum exemplo de um time que, após ganhar uma competição nacional jogando contra todos os grandes do seu país (tendo passado por jogos semifinais e finais e recebido das mãos da entidade organizadora uma taça no último jogo [alguém falou em bolinhas?]), tenha sido obrigado a medir forças contra equipes de outra divisão, notoriamente inferior, para saber quem de fato é o campeão do país?

• Alguém crê, de fato, que a torcida do Flamengo e a maioria esmagadora da imprensa deste país (séria ou não) viajam na maionese ou exercem seus lados bairristas quando apontam o rubro-negro da Gávea com cinco títulos brasileiros, juntamente com o São Paulo?

• Por tudo isso, alguém REALMENTE acha que o Flamengo nada conquistou naquele 13 de dezembro de 1987?

O que quero é tão somente provocar um raciocínio lógico e sensato da história, que se faz necessário quando a coisa entra num joguinho primário de "é oficial x não é oficial". O título do Flamengo não consta no site da CBF? Problema da CBF, ela que trate de justificar o porquê da lacuna! Eu estava no Maracanã naquele domingo chuvoso e presenciei, feliz da vida, tudo aquilo que todo mundo sabe que aconteceu (em caso de dúvidas, acessar o You Tube e buscar por "Flamengo 1987").

Apenas a título de comparação: na minha opinião, palmeirenses e tricolores que reivindicam o reconhecimento da Copa Rio como títulos mundiais de 1951 e 1952, respectivamente, têm todo o direito (e razão) de fazê-lo, da mesma forma que os campeões do antigo torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Robertão, podem se gabar de terem sido os verdadeiros campeões nacionais à época.

No caso da Copa União de 1987, não coloco em discussão o fato de a CBF reconhecer o Sport como campeão daquele ano, mas sim o absurdo de se passar por cima da história e desconsiderar que alguma coisa (chamem do que quiserem: Campeonato Brasileiro, Copa União, Módulo Verde...) o time da Gávea conquistou, legitimamente.

Isso, repito, é um absurdo histórico.

Mas acho que mais cedo ou mais tarde essa aberração será revista – afinal, o Botafogo levou 90 anos (!) para ver reconhecido pela Federação de Futebol do Estado do RJ a sua legítima conquista de 1907. Quem sabe em 2077 a CBF não faz o mesmo com o quarto título brasileiro do Flamengo?

Quem viver verá!

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

É ruim, mas é bom

Sexta-feira, 17 de outubro:
Caio Jr: "Obina tem suas deficiências técnicas"

Segunda-feira, 20 de outubro:
Obina vira exemplo para Caio Junior

Qual o próximo passo? Algo do tipo:

Sexta-feira, 24 de outubro:
Caio Jr.: "No meu time é Obina e mais dez!"

Medo, muito medo.

PS: Verdade seja dita: mesmo não jogando nada, o time tá ganhando. Já é um belo avanço, na medida em que três anos atrás jogávamos até bem mas perdiamos quase sempre. Seria ótimo se continuasse assim, mas é difícil imaginar uma vitória contra Palmeira e/ou Cruzeiro jogando esse mínimo necessário. Veremos.

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Vota Brasil! (ou não)

Todas as informações abaixo são reais, por incrível que pareça.


















OBS: Imagens gentilmente chupadas do Kibe Loco.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Brilho eterno de uma mente com lembranças

Todos que estavam presentes no Maracanã na tarde daquele 19 de setembro de 1993 desconfiavam do tamanho do espetáculo que estavam prestes a presenciar. Há 15 anos, o dia tinha aura de história para o futebol.

Romário chegou do Barcelona, onde só não comia a bola por falta de tempero, com o peso do crédito de todo um país. Isso sem seque ter disputado um jogo que fosse na escalada para a Copa dos EUA. O desconfiômetro do torcedor com o time de Parreira estava ligadíssimo, fruto da campanha irregular marcada pela primeira derrota do Brasil em Eliminatórias – num jogo contra a Bolívia nas alturas de La Paz.

Mas havia Romário naquele tarde. O Romário que o Brasil inteiro clamava, jogo após jogo, aos ouvidos de Parreira, que fingia não ouvir.

Quando o diabo do fantasma de 50 reapareceu em mais uma decisão contra o Uruguai em pleno Maracanã, num espectro de derrota que resultaria na primeira eliminação do Brasil de uma Copa do Mundo, Parreira ouviu. E chamou o Baixinho, claro.

Começa o jogo e o cartão de visitas é um chapéu no adversário na entrada da grande área, o suficiente para transformar a desconfiança em absoluta certeza: “hoje ele vai comer a bola, com ou sem sal!”. Jogo que segue e uma arrancada tipicamente romariana resulta na bola caprichosamente beijando o travessão de Siboldi. Àquela altura o desfecho apoteótico era apenas uma questão de tempo. De segundo tempo.

Com uma cabeçada à altura dos craques grandes e um drible a 100 km/h à feição dos grandes craques, os dois golaços de Romário contra o Uruguai colocaram não só o Brasil em mais uma tentativa de quebrar o jejum de Copas (que chegaria a 24 anos). As duas pinturas e a atuação impecável no Maracanã de 100 mil súditos daquele 19 de setembro de 1993 começariam a mudar a história do número 11 no futebol brasileiro e – por que não? – mundial.

Era o grande, o imenso Romário em direção ao auge da carreira, e o Brasil dando seu primeiro passo em direção ao tão aguardado tetracampeonato.

Eu estava lá, e fui apenas mais um a me render ao Baixinho genial da grande área.