sexta-feira, 20 de janeiro de 2017

Axé da Bahia, do Brasil para o mundo

São muitos os méritos de "Axé - Canto do Povo de um Lugar", documentário que estreou ontem nos cinemas narrando a história de linhas tortas, mas de estrondoso sucesso, da música carnavalesca feita em Salvador para o Brasil e o mundo. O filme abrange todas as pontas do movimento musical que nasceu mambembe e cresceu estruturado como indústria, fomentando músicos e compositores, gerando milhões em receita e consagrando dezenas de artistas como astros e estrelas do showbiz nacional.

Como documento histórico, o longa-metragem de Chico Kertész tenta decifrar a origem do som dançante que dominou as paradas de sucesso de rádios e TVs brasileiras por mais de duas décadas, e acaba mostrando que tudo cabia naquele liquidificador sonoro: o frevo dos trios elétricos dos anos 1970, a guitarra baiana de Armandinho, as influências latinas de Gerônimo, a batida do samba-reggae criada por Neguinho do Samba para o Olodum. Tudo podia ser "axé music" naquele cenário de efervescência e inventividade que dominava a cena cultural soteropolitana, alimentada pelos investimentos em novas bandas feitos pelos blocos de carnaval e pelo estúdio WR.

Luiz Caldas, como o primeiro astro nacional do movimento, trouxe consigo uma primeira leva de artistas para um Brasil que aprendia a dançar com trejeitos e sotaques. Vieram Reflexus, Banda Mel, Chiclete com Banana, Sarajane, Cheiro de Amor, Banda Beijo... Em Daniela Mercury, a primeira estrela internacional. Um furacão que pôs a Bahia, a partir do início daqueles anos 1990, como o principal polo produtor das maiores e mais impressionantes vendagens da indústria fonográfica brasileira por anos seguidos – Banda Eva, Netinho, É o Tchan! e Terra Samba tiveram um punhado de discos de diamante (mais de 1 milhão de cópias por álbum) para chamar de seus.

Fechando com o fenômeno Ivete Sangalo – há mais de uma década a artista mais popular do Brasil – e apontando para Saulo Fernandes o que pode ser a continuidade num momento de declínio comercial e de prestígio em baixa, muito em função da perda de conexão com a nova geração consumidora, "Axé..." retrata com fidelidade e precisão o movimento musical de maior sucesso do país surgido e estruturado 100% fora do eixo Rio-SP. Uma monstruosa indústria de ritmos, hits, modismos, lucros, egos e sonhos que só podia ter acontecido, do jeito totalmente porreta que aconteceu, na Bahia.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2017

Dez discos de 2016 para se escutar em 2017 (e em 2018, 2019...)

24K Magic (Bruno Mars): O melhor do new jack swing noventista rejuvenescido em grande estilo pelo cara que manda e desmanda hoje em dia.

- ANTI (Rihanna): Contando com uma excepcional releitura de "Same Ol' Mistakes", do Tame Impala, a mulé lacrou geral nazinimiga – de novo.

- Blackstar (David Bowie): Uma aula de dignidade e de boa música no epílogo de um grande mestre. Cara que faz uma falta da porra...

- Blue & Lonesome (The Rolling Stones): As raízes expostas no blues que ajudaram a forjar a maior banda de rock em atividade. Imperdível.

- Duas Cidades (BaianaSystem): O pós-Axé que pulsa na periferia de Salvador fala pro mundo inteiro. Coisa de gente grande e antenada.

- Gatos e Ratos (Odair José): O cronista popular reencontrou a boa forma no bom e velho rock'n'roll. Não sobra pra ninguém neste ótimo disco.

- Mahmundi (Mahmundi): Principal revelação da música brasileira em 2016. Álbum que renova as esperanças em muita coisa. Apenas excelente.

- O Problema É A Velocidade (Emanuelle Araújo): A baiana tirou onda com um disco lírico, cheio de nuances, mas sem dispensar o suingue nagô.

- Sky High (Fish Magic): O segundo trabalho solo do brother Mário Quinderé é denso e bebe de muitas fontes, resultando num rock atemporal.

- Starboy (The Weeknd): Apesar de excessivamente longo, o petardo pop tem belíssimos momentos, como as duas parcerias com Daft Punk.