sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Pela hora da morte

O efeito não era para ser exatamente esse quando o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, conclamou ao americanos: "Comprem!":

Estadão.com.br – Funcionário do Wal Mart morre pisoteado em liqüidação

Fico imaginando a reação em geral se isso acontecesse no Brasil, mais precisamente na 25 de Março ou no Mercadão de Madureira. "Ô povinho mal-educado!" seria o mínimo.

Pois é...

sábado, 22 de novembro de 2008

Pra que tanta notícia?

Até pouco tempo atrás, costumava digerir meu café da manhã a caminho do trabalho sintonizando no rádio emissoras de notícias. Longe de ser um hábito, por assim dizer, recomendável. Não digo isso nem pela questão física da coisa, mas pela possibilidade de ingerir involuntariamente desgraças humanas de toda sorte pouco depois de degustar fatias de mamão e nacos de queijo. Mesmo não havendo relação direta entre uma coisa e outra, acaba sendo algo não muito animador num início de dia.

Essa semana aconteceu algo assim. Indo para o trabalho, trânsito caótico como de costume, sou abduzido pela seguinte manchete no Repórter CBN: "Menina de cinco anos é morta em subúrbio do Rio pela própria mãe. Em depoimento à polícia, ela alegou que cometeu o crime porque a criança estava possuída pelo demônio". Indigesto, não? Não há muito que comentar diante de tamanha bestialidade, a não ser dois ou três xingamentos que são tão naturais quanto o sentimento de revolta.

Eis que no dia seguinte, engarrafado em mais um trânsito caótico, após mais um café com pão, ao som da mesma CBN, o locutor traz a seguinte "informação": "Polícia encontra criança de oito anos morta no interior da Bahia. Família é suspeita de ter assassinado o menino em ritual satânico". Aí não teve jeito, eu tive que fazer como aquele sujeito que, após encontrar a mulher pela sexta vez com o amante no sofá, resolve tomar uma atitude e vende o sofá: desliguei o rádio.

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Não queria terminar o post dessa maneira, dando a impressão de estar fazendo uma piadinha cretina com tragédias brutais alimentadas por fanatismos de toda ordem. No entanto, a reação imediata que eu tive ao fugir das notícias ruins, simplesmente renegando – pelo menos momentaneamente – os veículos que as divulgam, me parece uma saída honesta num momento de saturação (e olha que quem escreve essas linhas é um militante da profissão). Isso me remete àquele trecho de "Alegria, Alegria", do Caetano: "Pra que tanta notícia? / Eu vou...".

É isso. É muita notícia, muita informação sendo bombardeada por aí hoje em dia, sob a falsa tese de que "no mundo globalizado tudo é notícia e todo mundo tem que saber". Tudo o quê? E essa massificação da informação, vem a troco de quê? O que me agrega saber que uma mãe absolutamente desequilibrada mata uma filha de cinco anos motivada por alucinações diabólicas? Qual a finalidade de se saber sobre o assassinato de uma criança de oito anos, pela própria família, numa festa macabra – se não vomitar questionamentos na internet, como faço agora?

Eu simplesmente NÃO preciso dessas notícias para me sentir minimamente bem informado.

Ainda que seja uma fuga vazia, inútil – afinal, a realidade bate a nossa porta sem pedir licença –, atualmente prefiro seguir meus caminhos sem o canhão dos fatos em tempo real, e com a ilusão silenciosa de que nada de muito horripilante está acontecendo lá fora do carro. Mesmo sabendo que a sensação termina no momento em que se chega ao ponto final e partimos pra mais um dia de luta.

Vida que segue...

domingo, 16 de novembro de 2008

Céu + Sol + mar + Maraca = domingo no Rio

Sugestão de som: "Praia e Sol", do Bebeto.

Praia e Sol
Maracanã, futebol
Domingo!



Praia e Sol
Maracanã, futebol
Que lindo!


Domingo eu vou ver meu time jogar
Tomara que ele saiba ganhar
Se souber vai ser muito bonito
Ver de alegria o povo sorrindo


Que maravilha essa vida maneira
Tem gente ai que ainda não viu
Como é gostoso esse sol quando brilha
Iluminando esse imenso Brasil!



O Rio sempre está lindo
Com meu amor eu vou indo
A brisa fresca batendo
No lindo corpo moreno



Brincar ao sol no mar
Depois sambar sambar
Sambar, sambar, sambar
Brincar ao sol no mar


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Não há outono em Nova York, inverno em Paris ou primavera de Praga que faça frente a um autêntico dia de verão no Rio.

É aquele cartão-postal que muitos intelectuais odeiam e torcem o nariz em se tratando de Brasil, mas que nós, cariocas, assumimos com todo o orgulho do mundo – talvez pela consciência do deslumbre incomparável do cenário que nos cerca. Esse é o Rio.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

A primeira vez a gente nunca esquece

Estive duas vezes com Dilma Rousseff de forma "exclusiva", enquanto repórter do site CanalEnergia. Nas duas – quando do lançamento da MP que daria origem ao Novo Modelo do Setor Elétrico, em 2003, e outra logo depois, em 2004 – fui muito bem recebido por ela, de tal forma que em menos de cinco minutos caiu inteiramente por terra a armadura invisível que a envolvia na minha imaginação. As duas entrevistas foram das melhores que já fiz, renderam bem mais do que tinha pautado. O mérito foi todo dela, que falou muito e bem.

No final daquele mesmo ano de 2004 participei da bancada de entrevistadores do programa Roda Viva (TV Cultura), que tinha a então ministra de Minas e Energia no seu centro. Ao contrário das duas vezes em que visitei seu gabinete em Brasília, ali eu não estava, por assim dizer, tenso. Eu estava era apavorado! – e não tinha nada a ver com a entrevistada. O negócio era a televisão. Antes de entrar no estúdio, eu estava mais ou menos como numa ante-sala de consultório de dentista: esperando a hora de cumprir uma obrigação (com a vantagem de não ter que ouvir aquele motorzinho insuportável). O problema foi quando eu tive que entrar no consultório – neste caso, o estúdio. Ai, amigo(a), o bicho pegou.

Pra quem não é habituée da telinha, a sensação de se ver como alvo central de uma câmera é inevitavelmente desconcertante. Quando você transpõe isso para um programa ao vivo, em rede nacional, conceituado e tido como formador de opinião, estando você na posição de um fomentador de opinião, aí não é desconforto não. É tremedeira mesmo.

O resultado dessa experiência interessante do ponto de vista jornalístico, e inesquecível para o gerente deste humilde blog, pode ser conferido no excelente site Memória Roda Viva, projeto desenvolvido pela Fapesp com o objetivo de decupar o arquivo de mais de 20 anos do principal programa de entrevistas do país. Buscando por "Dilma 2004" aparece o link para o texto com a íntegra da entrevista. Neste caso, como é texto, eu indico – porque se fosse o vídeo...

O site é http://www.rodaviva.fapesp.br/. Se estiver com tempo, dê uma olhada no arqivo. Tem coisas bem legais ali.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

I had a deam... and it came true!!!





E assim, numa noite de terça-feira, mais um capítulo da História foi escrito com as tintas da democracia, pelas mãos do povo. Que assim seja!

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Waldick, um animal extinto

Hoje, 4 de novembro de 2008, faz exatos dois meses que Waldick Soriano resolveu cantar seus males de amor em outros cabarés.

A data dificilmente será alçada ao panteão dos grandes acontecimentos da música brasileira, pelo simples fato de Waldick não ter sido alguém pertencente à casta do que se entende por "músico brasileiro". Waldick era um cantor exclusivo das suas próprias músicas, apenas isso. Não tinha relação direta com linhagens tradicionais do cancioneiro popular, como o baião, o samba-canção e mesmo o que se produziu na Era do Rádio. Waldick bastava-se como um autêntico bolerista apaixonado, daqueles cuja existência, em tempos de estilo cool e vozinha baixa, está mais ameaçada que rinoceronte cinza em terras africanas.

Cerca de um ano antes de pedir o chapéu e partir, El Gran Soriano foi personagem de um projeto lindo, rico e cheio de emoção (sincera) pilotado por Patrícia Pillar. O trabalho rendeu um ótimo documentário curta-metragem, um DVD e um CD – este dois últimos gerados de um show marcante realizado em Fortaleza, produzido também pela atriz. Quando se assiste ao filme ou ao registro do espetáculo, mesmo não tendo o DNA musical do astro, percebe-se de imediato a concretização de um corajoso projeto. Melhor: de uma linda homenagem.

Tanto o curta quanto o DVD evocam espontaneamente uma aura de homenagem em vida a um artista cuja percepção sobre fazer e viver de música ficou muito acima das questões tecno-mercadológicas de hoje em dia. Envolto no tradicional terno preto e devidamente protegido pelos indefectíveis óculos escuros, Waldick era capaz de externar os mais profundos sentimentos da alma masculina mirando-se sempre em histórias de final triste. Numa hora era a amada ingrata que não correspondia aos seus apelos, noutra era a paixão arrebatadora e fugaz de uma noite no bordel.

Cantor fundamental na construção da identidade verdadeiramente popular da MPB, Waldick Soriano se firmou e reafirmou como intérprete de um estilo praticamente exterminado da canção nacional: o de quem vivencia ali, em pleno palco, suas histórias de amor mal-sucedidas. A maneira forte e passional ao narrar o sentimento era o que prevalecia. O chapéu levemente caído e o olhar cafajeste, somados à voz sempre potente e marcante, moldavam um tipo raro e hoje praticamente extinto na cultura musical brasileira.

O jovem sanfoneiro baiano já havia trabalhado como garimpeiro e lavrador quando resolveu se inspirar no faroeste “Durango Kid” para incorporar a figura mítica do durão apaixonado. Patricia Pillar tomou para si o desafio de reapresentar esse personagem aos que pouco ou nada sabem dele, e o encarou da maneira mais franca possível, sem preconceitos ou estereótipos. O resultado é o retrato de um artista que não carecia de maquiagens e melindres – talvez por ter tido a exata noção das várias e inegáveis qualidades que possuía.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Sintomas da tragédia

Se você é candidato a presidente da maior potência do mundo (algo trivial), há certos momentos em que a sensação de derrota é tão evidente que nem mesmo apelar para os fãs da Oprah dá mais jeito. Eis um desses sinais inexoráveis:

G1 – Para grande maioria dos uruguaios, Obama é melhor que McCain

Fontes não-oficiais ligadas ao candidato republicano garantem que ele desiste da disputa ainda nessa segunda-feira, tamanho o baque sofrido com a adesão dos cidadãos deste importante país sul-americano ao adversário democrata.

Deve ser duro segurar uma barra dessas...