sábado, 22 de novembro de 2008

Pra que tanta notícia?

Até pouco tempo atrás, costumava digerir meu café da manhã a caminho do trabalho sintonizando no rádio emissoras de notícias. Longe de ser um hábito, por assim dizer, recomendável. Não digo isso nem pela questão física da coisa, mas pela possibilidade de ingerir involuntariamente desgraças humanas de toda sorte pouco depois de degustar fatias de mamão e nacos de queijo. Mesmo não havendo relação direta entre uma coisa e outra, acaba sendo algo não muito animador num início de dia.

Essa semana aconteceu algo assim. Indo para o trabalho, trânsito caótico como de costume, sou abduzido pela seguinte manchete no Repórter CBN: "Menina de cinco anos é morta em subúrbio do Rio pela própria mãe. Em depoimento à polícia, ela alegou que cometeu o crime porque a criança estava possuída pelo demônio". Indigesto, não? Não há muito que comentar diante de tamanha bestialidade, a não ser dois ou três xingamentos que são tão naturais quanto o sentimento de revolta.

Eis que no dia seguinte, engarrafado em mais um trânsito caótico, após mais um café com pão, ao som da mesma CBN, o locutor traz a seguinte "informação": "Polícia encontra criança de oito anos morta no interior da Bahia. Família é suspeita de ter assassinado o menino em ritual satânico". Aí não teve jeito, eu tive que fazer como aquele sujeito que, após encontrar a mulher pela sexta vez com o amante no sofá, resolve tomar uma atitude e vende o sofá: desliguei o rádio.

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Não queria terminar o post dessa maneira, dando a impressão de estar fazendo uma piadinha cretina com tragédias brutais alimentadas por fanatismos de toda ordem. No entanto, a reação imediata que eu tive ao fugir das notícias ruins, simplesmente renegando – pelo menos momentaneamente – os veículos que as divulgam, me parece uma saída honesta num momento de saturação (e olha que quem escreve essas linhas é um militante da profissão). Isso me remete àquele trecho de "Alegria, Alegria", do Caetano: "Pra que tanta notícia? / Eu vou...".

É isso. É muita notícia, muita informação sendo bombardeada por aí hoje em dia, sob a falsa tese de que "no mundo globalizado tudo é notícia e todo mundo tem que saber". Tudo o quê? E essa massificação da informação, vem a troco de quê? O que me agrega saber que uma mãe absolutamente desequilibrada mata uma filha de cinco anos motivada por alucinações diabólicas? Qual a finalidade de se saber sobre o assassinato de uma criança de oito anos, pela própria família, numa festa macabra – se não vomitar questionamentos na internet, como faço agora?

Eu simplesmente NÃO preciso dessas notícias para me sentir minimamente bem informado.

Ainda que seja uma fuga vazia, inútil – afinal, a realidade bate a nossa porta sem pedir licença –, atualmente prefiro seguir meus caminhos sem o canhão dos fatos em tempo real, e com a ilusão silenciosa de que nada de muito horripilante está acontecendo lá fora do carro. Mesmo sabendo que a sensação termina no momento em que se chega ao ponto final e partimos pra mais um dia de luta.

Vida que segue...

3 comentários:

Anônimo disse...

Concordo plenamente com você!!!
Seu blog é maneiro,como você sabe sou uma pessoa de poucas palavras!
Bjooooo.

Denise S. disse...

É verdade, essas coisas mexem com a gente, não dá para pensr em branco.
É tragédia demais e, com criança, é insuportável.

Anônimo disse...

Até parece um comentário saído de Alegria, Alegria: O Sol nas bancas de revistas/me enchem de alegria e preguiça/quem lê tanta notícias?/Eu vou!