segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Di Melo, sabe quem é? Pois procure saber!

Foi assim: na última sexta-feira, após tradicional encontro com amigos jornalistas no Centro, me dirigia a Jacarepaguá, onde pegaria minha esposa para degustarmos um hambúrguer na Barra da Tijuca. Tudo tranquilo até que, a certa altura, a rádio MPB FM insere na programação do seu "Aquecimento MPB" um som que, sem brincadeira e sem exagero, eu nunca tinha ouvido parecido em toda a minha vida. O efeito imediato foi diminuir a velocidade do carro, como num desejo inconsciente que a música, sabe lá porque cargas d'água, também durasse o máximo possível.

Descobertas musicais geralmente provocam em mim a preocupação imediata em memorizar um trecho da letra para que, a partir daí, eu consiga correr atrás depois – o que, com o advento de ferramentas virtuais, ficou muito mais fácil. No dia seguinte, com a ajuda de São Google, cheguei à ficha técnica do sujeito, ao nome da música que ouvira e a outras tantas coisas que igualmente desconhecera.

Vamos aos fatos: a figura se chama Di Melo, e a música-chave é "Kilariô". Tudo bem, eu também jamais tinha ouvido ambos os nomes até então. O cara é pernambucano e gravou, até onde consegui descobrir, um único disco na vida, em 1975 pela antiga Odeon – atual EMI. Os arranjos, para se ter uma ideia, são do bruxo Hermeto Pascoal. O que me chocou foi constatar o meu total desconhecimento diante de tão valiosa obra. O passo seguinte foi ir ao You Tube para descobrir outras cinco ou seis músicas igualmente espetaculares deste disco, fazendo com que a curiosidade se tornasse uma pequena obsessão numa gélida noite de sábado.

"Kilariô" é uma infusão de elementos do funk americano de James Brown com a soul music brasileira de Cassiano, mas diferente de tudo isso. O resultado é uma acentuada batida de samba-rock típica da metade dos anos 70 – Jorge Ben, Bebeto e Black Rio – com leve toque latino e um sotaque nordestino que faz toda a diferença. A letra é tão autêntica quanto à música, com referências a um modo de vida interiorano (fala em vaquinha, mandioca e roça). Uma obra-prima dançante que aguça o interesse de quem a ouve pela primeira vez. As canções que fazem o restante do disco enveredam pelo mesmo caminho, mas vão além. Dono de uma poética muito pessoal, Di Melo cria baladas, canções de protesto e até um tango com a mesma desenvoltura da faixa de abertura.

Se eu consegui, nessas poucas palavras, despertar algum interesse em você que está me lendo agora, maravilha. Di Melo, com algumas décadas de atraso, ainda pode e deve ser muito escutado e dançado Brasil a fora. Nesta minha muy humilde tentativa de acertar as contas com a minha ignorância musical ("só sei que nada sei", já disse o filósofo), deixo abaixo o caminho das pedras para quem quiser saber mais do grande Di Melo. São poucos os vídeos dele no You Tube, mas suficientes para se ter a exata noção da dimensão artística do cantor e compositor. Coloquei o endereço de um blog que dispõe de um link para baixar o disco na íntegra. Não preciso dizer que foi a primeira coisa que fiz, não é?

Agora e sempre, VIVA A MÚSICA BRASILEIRA! Divirta-se.




Baixe o antológico disco de Di Melo em http://escaparfedendo.blogspot.com/2010/01/di-melo-vivo.html