segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Museu Nacional (1818-2018)


A perda do Museu Nacional é irreparável, incalculável e inestimável para um país com tão pouco apreço por memória, história e ciência. A completa devastação em chamas do acervo de 20 milhões de itens – o maior e mais rico do continente – jamais poderá ser reposta, não só pela diversidade de peças, mas especialmente pelo seu vasto conteúdo histórico, cujo valor não pode ser dimensionado em cifras. De esqueletos completos de répteis e outros animais pré-históricos ao fóssil do humano mais antigo já localizado em solo brasileiro, o Museu Nacional completava ainda extenso material astrofísico, como meteoritos; coleções de civilizações antigas, como múmias egípcias; e parte importante da história do período imperial do Brasil, como documentos e artefatos. Uma reunião de riquezas imensuráveis que já não estão mais entre nós. A tristeza pela catástrofe, entretanto, logo se transforma em indignação quando se observa o descaso ao qual a instituição foi submetida ao longo de muitas décadas, resultando em recursos escassos, na precarização da infraestrutura e no tratamento indiferente por parte do poder público. Nem mesmo os parcos R$ 600 mil anuais para a manutenção básica do palácio situado na Quinta da Boa Vista vinham sendo repassados na sua integralidade, dado os cortes cada vez mais severos no orçamento federal, ano após ano. Fruto disso, apenas uma parte ínfima do gigantesco e precioso acervo ali reunido estava aberto à visitação pública. Engano imaginar que apenas o fogo foi capaz de destruir 200 anos de história. O descaso e a omissão constantes de governos e governantes, por décadas a fio, são tão ou mais responsáveis que as poucas horas de um incêndio devastador. Havia a expectativa que um investimento emergencial na casa dos R$ 21 milhões, a serem repassados pelo BNDES, pudesse impedir o que, aos olhos de quem trabalhava diariamente nas instalações, se avizinhava como uma tragédia prestes a acontecer. Não deu tempo. Diante das cinzas do que já é ruína, agora fica tarde demais para que as autoridades lamentem a destruição de um marco da cultura nacional. Esse triste papel cabe apenas e tão somente à população órfã, e em particular aos vários servidores que dedicaram uma vida de trabalho ao Museu Nacional. Meus sentimentos.

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