segunda-feira, 15 de abril de 2013

Melodia para quem precisa

Com dois anos de atraso, escutei neste último final de semana o álbum mais recente de Christopher Cross, "Doctor Faith". Acho que a debilidade da produção musical dos dias atuais é, em boa parte, explicada pela simples ausência de músicos que consigam trabalhar minimamente bem com melodias. Esta habilidade, de difícil manuseio para a maioria, aparece naturalmente ao longo da obra deste californiano de San Antonio, como convém aos grandes compositores populares.

Este "novo" disco remete a uma época em que qualidade melódica, por assim dizer, era artigo comum e mandatório não só nas rádios FM e nas produções do mercado fonográfico em geral, mas também no competitivo e estreito cenário do showbiz. Hoje, como se sabe, os requisitos para o sucesso passam muitas vezes bem longe deste item.

Como cantor, o tempo fez bem a Cross: melhorou sua técnica, sempre limitada a uma voz anasalada, e intensificou o seu lado de intérprete delicado, correto e sem exageros. Na parte musical, seara na qual ele se coloca com mais presença, as canções deste trabalho trazem, com maior acentuação folk, as linhas melódicas bem construídas que sempre caracterizaram seus grandes hits.

Entres os bons exemplos estão "November" – cuja suavidade remete à "Think of Laura", do seu segundo disco – e "When You Come Home". Outro momento de destaque é "Still I Resist", juntamente com a faixa-título. Em "Doctor Faith", aliás, Cross retoma a parceria com o amigo Michael McDonald, seu fiador no início de carreira e parceiro nos vocais de "I Really Don't Know Anymore", segundo petardo do arrebatador e multipremiado álbum de 1980.

O som de Christopher Cross – refinado como conceito, leve na sua essência – deve ser saudado sob diversos motivos para os fãs mais chegados. Mesmo para os mais distantes, o trabalho deixa uma sensação de alívio para os ouvidos, em meio a tanto barulho propalado por aí nos dias atuais.

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