O repertório de "20/20" traduz com fidelidade o lado pouco óbvio da volta desse Timberlake maduro à música, a começar pela duração das canções, entre seis e oito minutos em média. As faixas quase sempre condensam sutis intervenções pré-programadas aos arranjos elaborados dos Tennessee Kids, e isso fica claro no eletro-samba Let the Groove Get In. As baladas Pusher Love Girl e Spaceship Coupe moderam no açúcar e apostam na sensualidade fina dos falsetes bem aplicados por Timberlake.
A tônica do álbum, no entanto, está na corrente calcada no synthpop travestido de R&B vintage, tanto em viagens mais intensas como na ótima Tunnel Vision quanto na leve Strawberry Bubblegum – cujo frescor transita entre o Michael Jackson de "Off the Wall" e o Stevie Wonder de "Rocket Love". Os singles de entrada, Suit & Tie (com participação de Jay Z) e Mirrors, talvez sejam o lado mais palatável para o público pouco afeito a compreender a unidade de um disco-conceito, mas podem suscitar a curiosidade para o restante do trabalho.
Como afirmou precisamente o crítico Lucio Ribeiro, a coisa mais fácil e cômoda para Justin Timberlake, neste momento, seria retornar ao mundo da pop music fazendo algo na mesma linha do que ele já fez antes, com a certeza do sucesso confortável e garantido. Através de "20/20", entretanto, ele opta por depositar um capital artístico alto e corajoso no intuito de mudar o rumo da prosa e, por que não?, se jogar em um novo patamar, no qual paira uma constelação de estrelas do porte de Michael Jackson, Madonna e Prince.
"The 20/20 Experience", excelente do início ao fim, não deixa dúvidas de que Timberlake está na trajetória certeira para chegar lá. A música agradece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário