quinta-feira, 3 de junho de 2010

OLTN


Depois que o Bussunda morreu, e lá se vão quatro anos, nunca mais vi o "Casseta e Planeta" como antes. Parece meio bobo, mas fato é que eu não consigo me acostumar quando um(a) cara jovem morre das chamadas "causas naturais", que nada têm a ver com acidentes, desastres naturais ou violência.

O mais carismático dos cassetas estava apenas batendo uma bola, jogando uma inocente pelada de fim de tarde, nos arredores do hotel onde estava hospedado na Alemanha, durante a cobertura da Copa do Mundo. Não resistiu. Parou de jogar, voltou pro hotel, entrou no quarto e pimba!, caiu duro. Uma coisa escrota, como convém a uma morte absolutamente inesperada e sem sentido. Morte não tem que ter sentido, eu sei, mas algumas não dá nem pra tentar entender.

Nesses dias de TPC (Tensão Pré-Copa) e do recente lançamento da sua biografia, escrita com muita competência pelo Guilherme Fiuza, tenho lembrado constantemente do Bussunda. Da sua cara de gente do bem, das suas impagáveis imitações femininas, da sua paixão avassaladora pelo Flamengo, de como seria a sua presença na África do Sul (quem ele imitaria na seleção, o Kaká?)... Aliás, se tem alguém que faz falta na legião twitteira, esse alguém é o Bussunda. Faz falta o seu humor com categoria, sem baixar o nível pra fazer polêmica. O lance dele era fazer rir, apenas.

Tenho uma história muito boa com o Bussunda. Numa edição de décadas atrás da Bienal do Livro do Rio, estava acompanhando um debate no Café Literário sobre "o humor nos dias de hoje", ou algo do tipo, no qual estavam presentes ele, Hélio de La Peña, Marcelo Madureira, Luiz Fernando Novaes e uma escritora de cujo nome não me recordo. Eu estava sentado próximo ao palco. Em determinado momento do debate, aproveitei um instante de distração dele e dei um livro de piadas do Casseta, que tinha acabado de comprar, para os três integrantes do grupo autografarem ali mesmo. O problema surgiu quando eles sinalizaram com a cabeça perguntando o meu nome...

Como eu não podia responder em voz alta, pois o debate ainda estava transcorrendo, comecei a fazer o movimento labial devagar, mas sem o som da voz, numa tentativa de dizer Oldon – um nome, convenhamos, pra lá de exótico. O-L-D-O-N, fiz com a boca, recheando cada letra. Nada dele decifrar. O Hélio entrou no jogo de adivinhação e, do palco, listava alguns nomes pra mim, movimentando a boca mas sem emitir som:

- "O que, como é o teu nome? Ofon? Olom? Omar? Paulo?" – perguntava de La Peña.

Depois de alguns minutos em que eu tentava inutilmente algum sucesso numa mímica labial amadora em meio a centenas de pessoas (que a essa altura já tinham notado o inusitado da situação), Bussunda chutou o balde. Abriu o livro que estava em sua posse, sacou uma caneta e mandou a seguinte dedicatória a este sujeito de nome incompreensível que ora vos escreve:

"Valeu, OLTN (Obrigações e Letras do Tesouro Nacional). Seu nome é melhor que qualquer piada deste livro. Abraços do Bussunda".

Nunca ri tanto ao ser sacaneado por alguém. Até porque ter sido sacaneado pelo Bussunda, pra mim, foi uma honra.

3 comentários:

VELOSO disse...

Muito bom seu blog gostei mesmo valeu!

Denise S. disse...

hilária a história, Oldon!

Rodrigo Polito disse...

hahahaha. Memorável, Oldão!