segunda-feira, 27 de julho de 2009

Nem Freud explica

Notável a exposição de fatos elencada pelo ombudsman da Folha de S. Paulo no artigo abaixo, que trata da injustificável (embora até explicável) puxação de saco editorial e pública em favor do Ronaldo Fenômeno. Se por um lado mostra uma face oba-oba de quinta categoria da imprensa que tanto se vangloria de empunhar o bastião da imparcialidade na busca pela clareza da informação, duela a quien duela, o texto do jornalista Carlos Eduardo Lins da Silva deixa uma questão em aberto: a postura "chupa-mas-não-baba" da Folha tem alcance apenas no campo de jogo ou vai além das quatro linhas, fazendo com que a atuação do Gordo na agitada noite paulistana passe ao largo dos olhos sempre tão atentos da redação dos Frias?

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Nem Freud explica

Carlos Eduardo Lins da Silva

A obsessão deste jornal com o jogador Ronaldo desafia qualquer psiquiatra. Já faz mais de sete meses que ele está no Corinthians e a Folha continua a tratar esse acontecimento como se fosse algo comparável à descoberta da cura do câncer ou a chegada do homem à Lua.

No domingo, além da manchete da página D3 para declará-lo “altruísta” por dar passes para colegas fazerem gols, ainda há uma retranca para informar que à tarde ele jogaria pela primeira vez contra o goleiro Marcos. Não bastaram todas as primeiras vezes (jogo, jogo em São Paulo, gol, jogo no Maracanã, jogo em Minas, jogo contra o Cruzeiro, pênalti). É uma coisa realmente de louco.

Na segunda, lá está ele de novo na capa do jornal. A grande notícia é que ele machucou a mão. Pode-se antever o carnaval que agora será feito com a mão esquerda de Ronaldo.

À compulsão por Ronaldo soma-se a mania que o jornal tem de valorizar demais séries e coincidências históricas e estatísticas. Não faz nenhum sentido o título “Estádio do primeiro gol agora pune Fenômeno”, na página D2. Como “estádio pune?”. Foi por causa do estádio que Ronaldo machucou a mão? E que relação pode haver entre o primeiro gol e a suspeita de fratura na mão?

E a coisa não se limita a Ronaldo. A manchete da página é “Obina decreta o pior revés rival em clássico com Mano” diz ela na edição nacional. Na edição SP a construção é menos tortuosa e um pouco mais compreensível, mas a intenção é a mesma: enfatizar que este foi o pior resultado de Mano Menezes como técnico do Corinthians em clássicos.

Mas que importância tem isso? Se o resultado tivesse sido 2 a 0, qual teria sido a diferença? O lide do texto da manchete destaca outra singularidade que não tem a menor importância objetiva: “A cidade que viu o primeiro gol de Ronaldo com a camisa do Corinthians testemunhou ontem a consagração de Obina.” E daí que foi em Prudente que Ronaldo fez seu primeiro gol e Obina fez três?

Um comentário:

Wellington Campos disse...

Fala, Oldon.

Não sei por qual caminho do acaso parei aqui no seu blog. Colega de EPE, engenheiro que gosta de escrever e curioso por blogs marca presença.

Gostei muito do seu espaço, e compartilho dessa sensação estranha de achar que a relação da mídia (não só de São Paulo) com Ronaldo é, no mínimo, obsessiva. Freud, onde quer que esteja, deve estar perdido entre argumentos psicológicos e mercantis para explicar o fato.

Parabéns pelo conteúdo. Um abraço