Contra a exaltação insana e covarde da memória de um matador oficial do Estado por parte de um deputado que prefiro omitir o nome imundo, em pleno plenário de Congresso Nacional (o que configura um crime tipificado em lei), relembro aqui o discurso histórico de mestre Darcy Ribeiro durante o enterro do cineasta Glauber Rocha, em agosto de 1981.
As palavras do antropólogo, uma das mentes mais brilhantes e generosas em favor da melhoria do povo brasileiro, valem para um Brasil que desgraçadamente ainda está aí e que se apresentou ontem de cara lavada, em horário nobre.
Triste.
******
"Uma vez, e eu não vou esquecer nunca, Glauber passou uma manhã abraçado comigo e chorando.
Chorando, chorando convulsivamente.
Eu custei a entender – ninguém entedia – que Glauber chorava a dor que nós devíamos chorar. A dor de todos os brasileiros.
O Glauber chorava as crianças com fome.
O Glauber chorava esse país que não deu certo.
O Glauber chorava a brutalidade.
O Glauber chorava a estupidez.
A mediocridade.
A tortura.
Ele não suportava. Chorava, chorava, chorava.
Os filmes do Glauber são isso. É um lamento, é um grito, é um berro.
Essa é a herança que fica de Glauber.
Fica de Glauber pra nós a herança de sua indignação.
Ele foi o mais indignado de nós. Indignado com o mundo tal qual é.
Assim"
(Darcy Ribeiro)
******
Veja o discurso histórico de Darcy Ribeiro clicando aqui.
Nenhum comentário:
Postar um comentário