segunda-feira, 18 de abril de 2016

O discurso histórico de Darcy: por que Glauber chorava?

Contra a exaltação insana e covarde da memória de um matador oficial do Estado por parte de um deputado que prefiro omitir o nome imundo, em pleno plenário de Congresso Nacional (o que configura um crime tipificado em lei), relembro aqui o discurso histórico de mestre Darcy Ribeiro durante o enterro do cineasta Glauber Rocha, em agosto de 1981.

As palavras do antropólogo, uma das mentes mais brilhantes e generosas em favor da melhoria do povo brasileiro, valem para um Brasil que desgraçadamente ainda está aí e que se apresentou ontem de cara lavada, em horário nobre.

Triste.

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"Uma vez, e eu não vou esquecer nunca, Glauber passou uma manhã abraçado comigo e chorando.

Chorando, chorando convulsivamente.

Eu custei a entender – ninguém entedia – que Glauber chorava a dor que nós devíamos chorar. A dor de todos os brasileiros.

O Glauber chorava as crianças com fome.

O Glauber chorava esse país que não deu certo.

O Glauber chorava a brutalidade.

O Glauber chorava a estupidez.

A mediocridade.

A tortura.

Ele não suportava. Chorava, chorava, chorava.

Os filmes do Glauber são isso. É um lamento, é um grito, é um berro.

Essa é a herança que fica de Glauber.

Fica de Glauber pra nós a herança de sua indignação.

Ele foi o mais indignado de nós. Indignado com o mundo tal qual é.

Assim"

(Darcy Ribeiro)

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Veja o discurso histórico de Darcy Ribeiro clicando aqui.

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