sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Roberto Bolaños (1929-2014)


Morreu hoje o meu amiguinho Chaves do 8.

Morreu hoje o meu heroi atrapalhado Chapolin Colorado.

Morreu hoje um personagem para sempre na minha vida, e na de muitos outros.

Morreu hoje o genial Roberto Gomez Bolaños, pai e artesão de tipos verdadeiramente imortais.

Meu eterno agradecimento, mestre, pela arte do riso puro, genuíno e universal. Agora todos nós aqui na vila ficamos órfãos também.

Descanse em paz.

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Dilma Rousseff por mais quatro anos, no limite


Dilma Rousseff reelegeu-se no limite.

No limite de votos, com uma frente de apenas 3,5 milhões de sufrágios em um universo total de pouco mais de 105 milhões contabilizados como válidos no pleito deste 26 de outubro de 2014.

No limite da contagem, na medida em que ela virou a disputa voto a voto sobre Aécio Neves apenas às 19h32, após duas horas e meia de tensão no ar, que ainda se estenderia por mais meia hora, e já com 88,9% apurados em todo o país.

No limite da margem de erro, baseando-se na pesquisa de véspera feita pelo Datafolha e que apontou uma vantagem curta a seu favor, de 52% x 48% (a votação cravou exatos 51,64% x 48,36%).

No limite do apoio que ela poderia obter – e que de fato obteve – dos eleitores das regiões Norte e Nordeste, palcos de verdadeiras lavadas em cima do candidato do PSDB nos estados dessas regiões.

Mas, acima de tudo, Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher a ser reeleita presidente do Brasil ao valer-se, no limite, de um discurso que na prática expirou nestas eleições de 2014: o do plebiscito PT x PSDB.

Por que em 2018, quando o PT completará quatro governos e 16 anos consecutivos no poder, o discurso de campanha calcado na comparação entre os mandatos petistas e os oito anos de Fernando Henrique Cardoso não terá qualquer efeito sobre boa parte da população.

O que aconteceu na segunda metade da década de 1990 e no início dos anos 2000 serviu de amparo para o PT trabalhar, com extrema competência, as disputas eleitorais desde 2002, quando chegou pela primeira vez ao poder com a vitória de Lula.

De lá para cá, a polarização entre tucanos e petistas favoreceu sempre a estes últimos em todos os confrontos em nível federal nos quais estiveram. Fruto tanto da junção dos inegáveis avanços sociais e econômicos das suas administrações como também do apuro no marketing político, que tem na figura de João Santana uma espécie de Midas desta seara.

Acontece que, muito provavelmente, esse modelo teve o seu esgotamento nas eleições encerradas ontem, em decorrência de um distanciamento natural que tornará o embate ainda mais obsoleto nos próximos anos.

É inimaginável projetar novamente um quinto choque desses dois partidos, daqui a quatro anos, tendo como pano de fundo o Brasil de 20 anos antes. É tempo demais até para quem viveu – e sofreu – com os problemas daquela realidade distante, em especial os enfrentados no segundo mandato de FHC.

Para a turma mais jovem será ainda pior. Soará complemente anacrônico para a garotada de 20 e poucos anos assistir a debates circunscritos à tese do "no tempo em que os tucanos eram governo...". O efeito prático pode ser semelhante ao de uma aula de história no ensino médio. Sinal dos tempos e do próprio êxito do PT em se manter no poder.

Caberá ao governo reeleito, além de administrar os inúmeros desafios que se apresentam no segundo mandato, traçar novas referências políticas daqui para frente, ainda mais tendo a oposição se fortalecido com a expressiva votação de Aécio Neves e com a ampliação da presença no Congresso Nacional.

Quatro anos é muito tempo na política, para o bem e para o mal. Mas, mesmo sem usar de futurologia, dá para cravar que pela primeira vez em muitos anos o Brasil assistirá em 2018 uma nova plataforma de campanha por parte do governo, diferente de tudo o que se utilizou como estratégia desde que subiu a rampa do Planalto.

Não se sabe o discurso e o modelo que serão utilizados pelo PT ao se apresentar para pleitear mais quatro anos no governo, independentemente do postulante ao cargo. É certo, contudo, que o grande desafio de Dilma Rousseff passa por destravar os nós ao quais o seu primeiro governo esteve preso, criando condições reais para fazer seu o sucessor – ou sucessora.

Sorte a ela e ao Brasil.

quinta-feira, 31 de julho de 2014

Hermes e Renato e o gênio Fausto Fanti


A geração laudatória dos stand ups feitos pela coxice conservadora para a classe-média-sapatênis talvez jamais entenda o ponto ótimo da genialidade mambembe num humor como o de Hermes e Renato.

A linha tosca do escracho canalha é a mesma dos primeiros anos de Os Trapalhões – coisa que muitos tentaram, mas pouquíssimos conseguiram captar. HeR emulou esse espírito para fazer algo novo para a época (final dos '90 e boa parte dos '00), com maior grau de anarquia e liberdade.

Despretensiosamente, fizeram história no humor brasileiro, de verdade, influenciando inclusive muitos dos que surfam por aí sem apresentar a metade do talento dos caras.

A patrulha politicamente correta e hipócrita do Facebook talvez não consiga sacar a dose cavalar de ironia e deboche contida nas paródias hiperbólicas e nos personagens mal acabados de HeR.

Um dos muitos registros geniais da trupe no YouTube (veja aqui) mostra o sarcasmo com as estrelas da stand up comedy – cuja maioria pensa o humor e o mundo de forma tão ou mais quadrada que qualquer velha-guarda da Praça É Nossa. Para HeR era um prato cheio ver péla-sacos dando sopa para piadas.

Mas fica a dúvida: quem vai se lembrar do monstro criativo que foi Fausto Fanti, falecido neste infeliz 30 de julho de 2014, daqui a 10 ou a 15 anos? "Foda-se, o Renato era foda!", diria Hermes, trabalhando o seu vocabulário refinado. E era foda mesmo.

Neste mundo blasé e cheio de falsas verdades, esse maluco aí fazer uma falta absurda.

segunda-feira, 14 de julho de 2014

O fim de Tóis

O fim de Tóis
por Joaquim Ferreira dos Santos*

Os guerreiros de Tóis julgavam-se predestinados pelo sangue dos antepassados

É pau, é pedra, é o fim do caminho da Civilização Tóis, aquela que os guerreiros do condado de Comary inventaram para dominar o planeta futebol e para todo o sempre ser invencível. Ela exigia de seus súditos o cumprimento em que a mão direita fazia o poste enquanto o antebraço esquerdo servia de travessão, formando o T da palavra mágica. “Pelos poderes de Tóis”, gritavam no meio das rodinhas antes das batalhas — e se julgavam mais motivados.

Ninguém sabia onde queria chegar aquela confraria de homens adolescentes, sempre caminhando em fila indiana, as mãos nas costas do guerreiro que seguia na frente. O mundo adulto ria, mas eles vinham de uma civilização na floresta onde o importante era ser fofo. Foi assim que se conheceram no pátio escolar, meninos com alegria nas pernas, e assim caminhariam, uma chuteira de cada cor, a barra da cueca à mostra. Diziam-se uma família.

Os guerreiros de Tóis julgavam-se predestinados pelo sangue vitorioso de seus antepassados e com poderes suficientes para viver isolados na nova civilização de orgulho que fundaram. João Gilberto sussurrou e criou a bossa nova. D. Pedro inventou um país com o “Independência ou morte”. Agora, os canarinhos tropicais fundaram Tóis, abaixo da fortaleza do Dedo de Deus. A rocha energizava seus pés, eles acreditavam, ajoelhados contritos no meio do campo.

Durante um mês, estes 23 soldados furaram o nevoeiro da serra onde se aquartelavam e, como se fossem entidades divinas surgindo em meio às brumas de Avalon, desciam à várzea para enfrentar os fariseus que ousavam desafiá-los, eles, os autoproclamados reis eternos do futebol mundial. Sentiam-se semideuses, falavam da magia do bigode grosso e da união do grupo. Eram os valores do mundo Tóis. Zero de conversa sobre futebol, pois já de tudo sabiam.

Os guerreiros de Tóis eram os mais tatuados das guerras, todos rabiscados com a miríade de possibilidades inventadas para se imprimir qualquer maluquice na pele de um ser humano. Julgavam que isso seria tática terrível para assustar outras tribos. Pintavam-se de caveiras, dragões, morcegos e hieróglifos. Um desses guerreiros, além da cabeleira em volutas como a Hidra de Lerna, escreveu no braço “Não sou dono do mundo, mas sou filho do dono” — e supunha agora carregar ali a arma mortal de um para-choque de FNM. Morreria mais adiante, atropelado por um jogador alemão.

Antes das pugnas, os meninos de Tóis faziam questão de cantar inteiro o hino de seu condado, num impressionante festival de cenhos franzidos, gargantas arreganhadas e outros exageros da espécie. Seus antepassados, vencedores em cinco torneios, nunca souberam uma frase do tal hino, complicadíssimo. A encenação do canto a capela não tinha nada a ver com o jogo, não marcava gols e deixava os guerreiros emocionalmente exauridos. De onde estavam, no entanto, podiam ouvir o locutor dizer: “Estamos todos arrepiados”. Achavam por isso que estavam com a mão na taça.

Os guerreiros de Tóis chegaram a levar para o campo de batalha a túnica de um soldado ausente, ferido num combate anterior, numa tentativa mediúnica de incorporar as forças dele aos sobreviventes. Achavam possível utilizar a túnica de pano como arma de guerra. Vertiam lágrimas sob qualquer pretexto. Chorava mãe, chorava pai, chorava todo mundo. O mais velho conversava com uma imagem de Nossa Senhora de Caravaggio.

Definitivamente, o ar rarefeito da montanha onde viviam isolados começava a lhes fazer mal. Gol, só de canela. A qualquer contato com o próximo, caíam ao chão, contorcendo-se em dores invisíveis ao mais detalhista dos raios x.

As ordens com que administravam os combates vinham de um velho pajé, gordo de tanto anunciar lasanha na TV. Sua tática era sempre a mesma: “Atacar com motivação, defender com autoajuda”. Ele agora tinha como truque principal a capacidade de se transformar em sósias e espalhar a confusão. Ninguém sabia afirmar com certeza quem era quem, mas diante de algum comentário mais lúcido costumava-se creditar as palavras ao sósia. Na Civilização Tóis todo mundo achou a multiplicação do técnico como uma versão moderna da multiplicação dos pães, o sinal metafísico de que a guerra, ao findar do sétimo passo, estaria ganha.

Os guerreiros de Tóis se achavam acima do bem, do mal e também por cima da carne-seca, o alimento da infância que agora havia sido trocado pelas marmitas mandadas trazer da Espanha, do novo restaurante do chef Ferran Adrià. Alguns pintavam o cabelo todo dia, mas nunca acertavam o corte. A guerra do futebol passou a ser apenas um detalhe, algo transmitido no telão onde avaliavam como lhes ia a beleza.

Não treinavam. Tinham a força, a espada de Grayskull, o grito de Shazan, o apito do japonês, o licor de jurubeba e o pó de pirlimpimpim. Na hora agá, resolveriam. Tóis era a reunião de todos os poderes mais aqueles que os marmanjos adolescentes tinham visto nos videogames da caserna na serra — e, dedicados a se curtirem e se compartilharem nas redes sociais, nem perceberam o bicho vindo pelo meio de campo desocupado. Foram sete dentadas na vaidade, na preguiça, na ignorância e nos pescoços onde estava tatuado “Tudo passa”.

Nada passa, tudo fica — e fez-se o apagão eterno em Comary.

Nunca mais Tóis.

*Publicado em O Globo no dia 14/07/2014 (extraído de http://oglobo.globo.com/cultura/o-fim-de-tois-13247090)

quarta-feira, 9 de julho de 2014

A mãe de todas as tragédias para o futebol brasileiro


A ficha ainda não caiu totalmente. Como diz o clichê: será um processo longo e doloroso. Mas esse dia seguinte está sendo bem duro. Nessas horas em que o cenário de terra arrasada em ruas, esquinas e praças de norte a sul do país nos transforma quase em zumbis de "Walking Dead" por algum tempo – dias, meses? –, o sentimento coletivo dominante pode ser resumido em algo como MAS O QUE DIABOS FOI AQUELA DESGRAÇA, GENTE?

Não dá pra responder essa pergunta hoje, nem amanhã, talvez nem nos próximos sessenta anos. Não há software capaz de absorver o impacto de um asteroide como o que colidiu ontem no estádio do Mineirão e projetar no longo prazo seus efeitos sobre uma sociedade complexa e intrincada como a brasileira, cuja imagem para o mundo é calcada muito em cima dos êxitos dentro de campo. Não há vidente com tamanha capacidade de antevisão capaz de dizer, hoje, o que será do futebol brasileiro e do país do futebol (sic) depois de ontem, a partir de hoje.

Foi 7 a 1, amigo. SETE a um. Em casa. Numa Copa do Mundo. Numa semifinal de Copa do Mundo. Foram quatro gols em seis minutos. Acredito que nem os reservas do Goytacaz disputando a Série B do Campeonato Carioca se apresentariam com tamanha letargia a ponto de tomar quatro gols em seis minutos. Nunca vi, em cerca de 30 anos acompanhando apaixonadamente futebol, uma derrota como a de ontem. Acho que ninguém nunca viu nada como ontem em se tratando do maior esporte do mundo. Foi um tsunami de estragos cataclísmicos.

Os jornais, cujas capas deste amargurado day after já se apresentam como históricas, utilizam de todo o cartel possível de termos para desenhar o tamanho da porrada sideral: vergonha, vexame, humilhação, trauma, indignação, dor, revolta, frustração, irritação, pena, desilusão, fracasso, fiasco, pesadelo... O Houaiss pode ajudar a quem quiser com mais e mais sinônimos. E todos eles, juntos, parecem insuficientes para dimensionar a maior derrota da história do futebol brasileiro – talvez mundial, pelo menos em termos de magnitude global.

Questões táticas são fundamentais em qualquer abordagem sobre este Brasil 1 x 7 Alemanha, embora não encerrem o assunto. Vimos um bando alheio contra um time excelente em uma não partida. Jogadores fora de posição, perdidos enquanto conjunto, totalmente desarticulados, fisicamente frágeis e tecnicamente incapazes. Sim, foi tudo isso ao mesmo tempo, mas foi muito mais do que apenas isso. Porque uma derrota de sete a um entre dois gigantes numa decisão em Copa do Mundo traz em si o imponderável, aquilo que não podemos mensurar em números nem visualizar em esquemas de jogo.

Dito isso, a César o que é de César: o técnico Luiz Felipe Scolari ficará marcado como o mentor de um dos piores times que já envergaram a camisa amarela da Seleção Brasileira de Futebol. Não obstante sua insistência na convocação e escalação de jogadores que há muito não produzem em seus clubes, Felipão mostrou-se incapaz de armar uma equipe minimamente competitiva frente a adversários medianos no cenário internacional – caso de Chile, Croácia e México. Não vimos sequer um esboço do que poderia e deveria ser um Brasil disputando uma Copa em casa. Dependentes todo o tempo do gênio novato Neymar e da dupla de zaga David Luiz-Thiago Silva, nos revelamos limitados para uma competição de alto nível.

Noutra via, ficou claro a desatualização do futebol pentacampeão mundial se comparado ao de dezenas de outros centros – e não há vitrine mais apropriada para exibição do que se joga hoje no mundo que uma Copa. A impressão que todos os brasileiros tiveram ontem ao final do massacre é que, para além de um time melhor, com jogadores melhores, a Alemanha pratica algo anos-luz à frente do que o Brasil pode apresentar. E dá calafrios pensar que o modelo de jogo é a ponta de um imenso iceberg que envolve a busca por talentos, a criação de condições para o desenvolvimento dos atletas, um mercado pujante e clubes fortes, tudo estruturado numa política objetiva da confederação nacional. Estamos alijados desse mundo.

Foram muitos os que imaginavam a possibilidade da repetição do Maracanazo de 64 anos atrás como o mais terrível dos cenários em caso de uma nova decisão. Na prática, o Brasil – ironia dura de se engolir – sequer pisou no gramado do mais famoso estádio brasileiro durante a sua segunda Copa em casa, mas mesmo assim chegou ao ápice em termos de desfecho trágico. Porque nem no mais pessimista dos cenários, nem nas projeções mais sombrias, houve espaço para a possibilidade de uma eliminação por 7 x 1, independentemente do adversário e das dificuldades. A realidade se revelou mais surrealista e amarga que qualquer praga de black bloc.

Todos os erros do time, todos os vícios da comissão técnica, todas as falhas estruturais do futebol brasileiro, todo o check list de problemas que culminaram na tragédia do Mineirão serão alvo do escrutínio público de analistas esportivos, sociólogos, historiadores e comentaristas de redes sociais por muitas décadas. Haverá tempo de sobra, entre uma volta por cima e outra, para tratar a fundo do nosso 11 de setembro moral. Fato é que a Seleção Brasileira de Futebol, o time da camisa das cinco estrelas, sai menor do que entrou nesta excepcional "Copa das Copas" – que para nós será sempre a "Copa dos 7 a 1".

Na impossibilidade de voltar pra casa, fica a necessidade de reconstruir o nosso quintal a partir dos escombros que sobraram do fatídico 8 de julho de 2014. Não será um trabalho fácil, tampouco rápido. Mas se trata de um arregaçar de mangas inescapável. É preciso, de hoje em diante e em todos os sentidos, recriar o futebol brasileiro.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Copa do Mundo 2014: dia 7

Saldo resumido do sétimo dia da EXCEPCIONAL Copa do Mundo até aqui: três jogos, 11 gols, os dois primeiros classificados para as oitavas-de-final (Holanda e Chile, um deles adversário da Seleção Brasileira na próxima fase) e os três primeiros eliminados da competição (Austrália, Camarões e - pesmem - os campeões do mundo, Espanha).

Acho que amanhã, dia 8, teremos mais um classificado (Colômbia ou Costa do Marfim) e outras duas seleções dando tchau pro Mundial: Grécia e... Uruguai ou Inglaterra?

Veremos.

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Copa 2014: 5 dias, 14 jogos e 3 profecias

Após 5 dias de Copa e 14 jogos (quase todos ótimos) disputados, é impossível para este humilde blogueiro evitar profetizadas de leve. Por ora, três assertivas a partir do que já foi apresentado em campo:

- A Suíça é um daqueles times chatos (no bom sentido) da competição, mas a França confirmará a liderança do seu grupo. Com isso, pegará o segundo colocado no grupo da Argentina (ou Bósnia, ou Irã, ou Nigéria). Diante de um cenário tão tranquilo como esse, dá pra cravar: a França já está nas quartas-de-final da Copa do Mundo.

- Ao golear Portugal por 4 x 0, a Alemanha provou hoje que, sim, também vai estar no Maracanã dia 4 de julho para enfrentar os franceses no duelo de quartas. Basta constatar que os germânicos terão pela frente nas oitavas o vice-colocado de um grupo com Bélgica, Rússia, Argélia e Coréia do Sul. Sem dúvida, teremos um França x Alemanha no Maraca.

- A sorte monstro que a Argentina deu no sorteio dos grupos e do chaveamento, que conferiu aos hermanos o grupo mais fácil da Copa, fará diferença não apenas nas oitavas, quando provavelmente pegarão a Suíça, mas também nas quartas-de-final. Salvo a ocorrência de uma Bélgica histórica neste Mundial, Messi e cia. jogarão a segunda semifinal em São Paulo.

De resto, por enquanto, não me arrisco. Será que o Deus Futebol embaralha todas essas "certezas"?

Que siga a Copa das Copas!

terça-feira, 10 de junho de 2014

Vai ter Copa


Faltam pouco mais de 48 horas para o início da partida inaugural da Copa do Mundo de 2014 entre Brasil x Croácia, no ainda inacabado estádio Itaquerão.

Sim, vai ter Copa.

Vai ter Copa, sim, ao contrário do que alguns grupos radicais apregoaram em rede sociais e manifestações violentas durante meses, desde a eclosão dos protestos populares de junho de 2013.

Vai ter Copa à brasileira, com tudo o que há de bom e de ruim num país gigante em suas riquezas e diversidades naturais e culturais, embora múltiplo em suas contradições sociais fruto de uma longa história de negligência.

Vai ter, sim, a Copa dos prazos vencidos, das obras inconcluídas e do legado em xeque, marcas indeléveis de um Brasil que permanece arcaico e que motivará, por certo, novos cartazes nas ruas, agora talvez com foco em 2016.

Vai ter, por outro lado, a Copa enquanto evento esportivo, como ela sempre foi por onde aportou. Jamais haveria a Copa idílica que salvaria o Brasil de suas próprias mazelas, pagando dívidas históricas que são exclusivamente nossas.

Vai ter a Copa sem o "pão e circo" que querem imputar injustamente ao futebol, traço cultural inequívoco do povo brasileiro. Porque no Brasil há esportes e há o futebol. Nele nos revelamos reis, e por ele o país se mostrou ao mundo. A "amarelinha" é a nossa bandeira branca universal.

Vai ter a Copa da invasão de turistas ávidos por bola e pelo inescapável clichê "Brazil: Samba, Sol, Praia & Caipirinha" – possivelmente bem menos interessados em reparar nos nossos problemas mundanos, mas que para nós potencializam-se enormes.

Vai ter a Copa popular, dos personagens e das imagens de sempre: das ruas pintadas, das festas de comemoração das vitórias, do mar de camisas amarelas transitando apressadas nos dias de jogos. Vai ter o êxtase do título sofrido ou (toc toc toc) a decepção da derrota amarga?

Vai ter, é claro, a Copa do melhor futebol do mundo e dos estádios lotados.

Vai ter a Copa de Neymar e de uma Seleção Brasileira carregando a missão épica de apagar um fantasma que insiste em perdurar, por mais que tenha ficado para trás o trauma do Maracanazzo de Ghiggia e Barbosa. Aliás, será que ficou para trás mesmo?

Vai ter a Copa das demais grandes seleções e de (quase) todos os seus craques. De Messi a Touré, de Rooney a Iniesta, de Balotelli a Müller, de van Persie a Sanchéz, de Suárez a Cristiano Ronaldo, apenas um deles, ou talvez nenhum deles, sairá mítico dos campos brasileiros.

Vai ter Copa, sim. Vai ter um mês de festa no Brasil, e de festa do Brasil para o mundo. Será a Copa com a cara e com o jeito brasileiros, com os nossos defeitos e principalmente com as nossas virtudes. Já dá para dizer, mesmo de última hora, que esta será a Copa do povo brasileiro.

Vai dar certo.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Caso Copa União 1987: depois de 27 anos, o "Dia D". Será mesmo?

Semana decisiva para o "Mais Querido do Brasil" dentro e fora de campo. O Superior Tribunal de Justiça (STJ) vai retomar na tarde da próxima quinta-feira (20), em Brasília, o julgamento sobre o polêmico título da Copa União 1987 envolvendo o Clube de Regatas do Flamengo e o Sport Clube do Recife. A 3ª Turma do STJ iniciou a análise do caso em 3 de dezembro do ano passado, mesmo dia em que houve a suspensão do julgamento após um pedido de vistas do ministro Sidnei Beneti.

A relatora do caso, ministra Nancy Andrighi, afirmou no seu voto que o clube pernambucano extrapola a sentença judicial de 1994 - que confere ao Sport o título de campeão brasileiro de 1987 - ao pedir a revogação da resolução de 2011 da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), na qual a entidade considera o Flamengo também o campeão brasileiro de 1987. A ministra votou preliminarmente pela extinção do processo, reconhecendo a inadequação da medida tomada pelo Sport.

A POLÊMICA

A CBF desistiu de organizar o Campeonato Brasileiro de 1987, alegando na ocasião falta de recursos financeiros. Surgiu então o Clube dos 13, que manteve a competição em vigência rebatizando-a de Copa União. O torneio foi vencido pelo Flamengo em decisão contra o Internacional. A CBF, durante a disputa da Copa União, voltou da decisão inicial e então criou o Módulo Amarelo, com 16 outros clubes e que teve o Sport como seu campeão e o Guarani como vice. O torneio principal passou a ser tratado como Módulo Verde.

A entidade máxima do futebol brasileiro determinou então que teria de haver um cruzamento quadrangular entre os campeões e os vices dos dois módulos para que fosse definido o real campeão brasileiro daquele ano. O Flamengo e o Internacional se negaram a jogar o tal quadrangular decisivo, o que fez a CBF anunciar Sport como o campeão brasileiro de 1987 - decisão confirmada em 1994 na Justiça. Desde então Flamengo e Sport travam uma guerra judicial em torno do caso, que pode ter um fim, após 27 anos, nesta semana.

A polêmica - possivelmente a maior em toda a história do esporte brasileiro - também tem o São Paulo Futebol Clube como um dos envolvidos por conta da famosa Taça das Bolinhas, criada pela CBF para premiar o primeiro clube que vencesse o Campeonato Brasileiro três vezes consecutivas ou cinco vezes intercaladas. Com a oficialização do título de 1987, o Flamengo seria o real detentor da Taça, por ter sido o primeiro clube a ganhar cinco vezes o Campeonato Brasileiro de Futebol desde 1971, quando começou o torneio.

Leia mais em O que faz de alguém um campeão?