quinta-feira, 29 de outubro de 2009

De "time de chegada" à força dos pontos corridos: chegaremos lá?


O jornalista Juca Kfouri reproduziu esta semana no seu blog um levantamento instigante por muitos aspectos, principalmente para aqueles que, como eu, torcem pelo Clube de Regatas do Flamengo. Baseado nos Campeonatos Brasileiros entre 1971 e 2002 – quando, sob inúmeras variações de fórmulas de disputa, adotava-se o modelo de mata-mata - um colaborador do colunista resolveu fazer um levantamento interessante: quais seriam os campeões antes da disputa das fases decisivas. Ou seja, antes da entrada do mata-mata propriamente dito, na reta final dos torneios. Com isso, teríamos os seguintes campeões brasileiros:

1971 – Corinthians
1972 – Palmeiras*
1973 – Palmeiras*
1974 – Grêmio
1975 – Inter*
1976 – Inter*
1977 – Atlético Mineiro
1978 – Inter
1979 – Inter*
1980 – Atlético Mineiro
1981 – Vasco
1982 – Guarani
1983 – São Paulo
1984 – Fluminense*
1985 – Sport
1986 – Guarani
1987 – Atlético Mineiro
1988 – Vasco
1989 – Vasco*
1990 – Grêmio
1991 – São Paulo*
1992 – Botafogo
1993 – Palmeiras*
1994 – Guarani
1995 – Santos
1996 – Cruzeiro
1997 – Vasco*
1998 – Corinthians*
1999 – Corinthians*
2000 – Cruzeiro
2001 – São Caetano
2002 – São Paulo
* Times que conquistaram o título no respectivo ano

Pois qual não foi a minha surpresa ao constatar que o Flamengo, o grande Mengão da Era Zico, dono de um time de dar inveja a qualquer santista saudoso de Pelé & Cia, não teria ganho um título sequer ao longo dos 32 anos de Campeonato Brasileiro de modelo mata-mata, caso tivéssemos como campeões, em cada ano, os times mais bem colocados nas etapas de classificação – onde, invariavelmente, todos jogavam contra todos. Dos cinco títulos que tanto nos orgulham, ficaríamos a ver navios em todos eles. Dos 12 grandes times do eixo RJ-SP-MG-RS, o Flamengo seria o único a não ter, até hoje, um único troféu de Campeão Brasileiro na sua sala. Sport, São Caetano e Guarani, todos eles teriam conquistado o Brasil ao menos uma vez (o Bugre Campineiro teria chegado lá três vezes!). O Flamengo, nenhuma.

A pesquisa, além de interessante do ponto de vista histórico, valida em dados uma máxima que se tornou muito comum no futebol brasileiro a partir dos anos 80: aquela que coloca o Flamengo como um autêntico "time de chegada". Dentro do raciocínio que envolve esse pensamento, o rubro-negro carioca notabiliza-se não propriamente pela regularidade, pela manutenção de campanhas vitoriosas do início ao fim do campeonato, ou durante a maior parte dele. Ao contrário: o ponto de inflexão do time da Gávea, segundo essa lógica, estaria na força demonstrada nos confrontos diretos da parte final, quando as campanhas das fases classificatórias são ignoradas e inicia-se, na prática, um torneio de tiro curto: o melhor contra o pior classificado em jogos de ida e volta. Lá e cá.

E daí?, você pode estar se perguntando. E daí que esse levantamento empírico, feito mais pela curiosidade do que para provar algo a alguém, mostra, sim, que sempre fomos um time de chegada. Que nunca nos notabilizamos pela regularidade tão essencial que necessita uma equipe que chega ao título máximo do país no modelo de pontos corridos. E que, muito provavelmente, levaremos tempo (muito?) para incutir no nosso DNA essa mudança de paradigma. Ao ver a provocação no Blog do Juca, cheguei a me questionar: será que aquele Flamengo da Era Zico era tão imbatível quanto o mito que se criou em torno dele faz supor? Ou imbatível, na verdade, era a combinação time embalado + Maracanã abarrotado + clima de "deixou chegar..."?

Pensando melhor, não acho que seja assim. Como diria Tim Maia, uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa. Acredito piamente que a qualidade daquela geração é absolutamente incontestável. E não serei eu, rubro-negro com orgulho e amor nas vitórias e derrotas, que ousarei dizer o contrário. Acontece que o resultado final desse levantamento me despertou o interesse justamente por trazer uma prova de verdade para o ditado popular: o Flamengo SEMPRE foi um time de chegada, literalmente. Nunca tivemos as melhores campanhas antes das finais, nem mesmo quando fomos campeões. No entanto, (quase) todas as vezes em que chegamos, ou nos deixaram chegar, ganhamos.

Mas a lógica mudou, e vai permanecer por muito tempo. Na nova ordem dos fatos, não basta mais o embalo das fases decisivas nos jogos de ida e volta, nos quais garantíamos sempre um Maracanã enlouquecido com 130 mil pessoas e um time com espírito matador, moldado à feição para aquele tipo de situação. Agora, um joguinho chinfrim de segunda rodada, frio, sem graça, num gélido mês de maio, pode fazer toda a diferença na disputa final do campeonato, quando, sob o calor de novembro, todo jogo tem cara e clima de decisão, pois vale realmente como uma decisão. Agora não tem mais jeito: é preciso provar em números que se é efetivamente o melhor. Sem mata-mata, ida e volta, lá e cá. É chegar na frente para ganhar. Simples assim. Difícil assim.

Não sei se o Flamengo conseguirá se adequar com sucesso a essa nova mentalidade. Para mim, ainda está mais viva do que nunca a imagem desoladora ao final de um Flamengo 1 x 2 Sport em 1992, quando, depois de mais uma derrota, me perguntava que papel poderíamos desempenhar na fase de mata-mata – que aquela altura, pela nossa posição na tabela, parecia bem distante. A história se seguiu com um desfecho conhecido: ganhamos alguns jogos, nos classificamos, crescemos, aparecemos, chegamos e ganhamos o campeonato. Tal e qual um autêntico time de embalo.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Espírito Santa


O time de maior média de público do futebol brasileiro este ano é o Atlético Mineiro, com quase 39 mil pagantes. Nada mais normal, em se tratando de uma torcida fanática e absurdamente incentivadora como é e sempre foi a do Galo.

Espantou-me saber que o segundo time na média nacional (contando as quatro divisões, de A a D) não é o Flamengo, líder disparado de médias históricas de torcidas no futebol do Brasil, ou o Corinthians, outro gigante das massas que este ano já levantou dois canecos, sendo um deles em nível nacional.

O segundo time que mais levou torcedores aos estádios este ano em todo o país é o Santa Cruz, com pouco mais de 38 mil cabeças por jogo.

Esse Santa Cruz é aquele mesmo, de Pernambuco. O mesmo Santa Cruz Futebol Clube que há poucos meses foi eliminado na primeira fase da Quarta Divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, e que por lá permanecerá por mais um ano, pelo menos.

Nada de Flamengo, Corinthians, São Paulo, Vasco, Grêmio ou Cruzeiro. A torcida do Santa Cruz é que é a tal!

Esse dado para lá de singular – em tratando de um time da Série D! –, por si só, suscita mil teses sobre a paixão do brasileiro pelo futebol, seja em que situação for. Ou ainda sobre reações inesperadas de afetividade e compaixão que o ser humano tem em certas situações de desilusão e desespero.

A torcida do Santa, com a sua demonstração inequívoca de amor na tristeza e na doença, como reza a pregação do sacerdote na hora do matrimônio, dá uma prova de que casamentos podem durar até mesmo sob o impacto da mais cruel das intempéries.

Basta ter amor sincero no meio.

***

Em tempo: o grande Santa Cruz começou a disputar, no dia 17 de outubro, um torneio semi-amador no estado chamado Copa Pernambuco, com o único objetivo de evitar o desmonte completo do seu departamento de futebol profissional. O público do primeiro jogo, contra o Vitória local, na casa do adversário, foi de 792 testemunhas, com renda total de R$ 3.600.

***

Bem, o amor com certeza não acabou. Mas talvez tenha tirado férias...

domingo, 4 de outubro de 2009

Tá na cara, tá na capa: o Rio já é 2016!

Pois é, conseguimos. Com a carga negativa de uns, com o azedume pseudo-crítico de outros, o Rio de Janeiro, o Brasil e o povo brasileiro conseguimos aquilo que, há uns oito anos atrás, era um sonho, uma viagem distante: sermos sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Isso apenas dois anos após sediarmos uma Copa do Mundo de Futebol. Os dois maiores eventos do mundo aqui, um atrás do outro.

É evidente que isso significa, na prática, a transferência de responsabilidade para nós. Teremos prazos, metas e desafios numa escala jamais vista para cumprir. Temos condições? Todas. Podemos fazer tudo aquilo que nos cabe com responsabilidade na gestão dos recursos? Também temos, mas aí cabe uma fiscalização direta da população e dos órgãos competentes. Mas temos, sim, condições - disso não tenho dúvida. Condições de fazer, de fato e na prática, as Olimpíadas mais belas da história. O cartão postal está aí, só esperando.

De cara, o Rio já pode contabilizar o primeiro dos benefícios com a decisão do COI na última sexta-feira. O nome da cidade, e me arrisco a dizer que do próprio país, jamais teve a repercussão que teve neste sábado em todo o planeta. Não só pelo ineditismo de os Jogos chegarem à primeira vez ao Brasil e à América do Sul, mas também pela nova imagem que o país tem aos olhos do mundo. Parafraseando a insinuação feita pelo presidente Lula, o velho complexo de vira-latas realmente ficou para trás.

Abaixo, um apanhado de algumas capas de jornais nacionais e estrangeiros deste sábado, destacando com imagens a festa em Copacabana, após a confirmação do Rio de Janeiro Olímpico. Do Rio de 2016, no centro do mundo.




















quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Rimas pobres, sentimentos nobres

Numa sexta-feira o Sol raiou mais forte
As ruas e avenidas silenciaram
As pessoas, tranquilas, caminhavam
Esperavam
Só queriam um sopro divino da sorte.

Neste estranho dia tudo ganhou cor
Tez dourada
Era mágica a caminhada
Não havia medo
Temor
Estava desenhado um lindo enredo
O vento conspirava a favor.

Parecia sonho
Talvez fosse
Não, acho que não era
Era o início de algo novo?

O dia acabou
Na derrota, na vitória...
A luz apagou.

Chegamos ao fim.

Esta sexta entrou, sim, para história
Pelas mãos dadas
Pelo sentimento coeso
Por algo que não sabemos se existirá
Tampouco podemos ver como será
Mas que mesmo assim, do nada
Insiste em manter um brilho aceso.

Vencendo ou perdendo
Ganhamos uma esperança.

Crédito da foto: Ernesto Martins