terça-feira, 19 de março de 2013

O grande (e certeiro) salto de Timberlake

Justin Timberlake apresenta em "The 20/20 Experience" um dos melhores álbuns de R&B lançados nos últimos anos. Mais que isso, o projeto que põe fim ao hiato de sete anos do agora cantor/ator no cenário da música representa um salto consideravelmente arriscado e grandioso na sua carreira. Justin abre mão dos hits curtos, pegajosos e radiofônicos que dominam o cenário pop desde a explosão de cantoras plastificadas, como Christina Aguilera, Jennifer Lopez e Beyoncé, e parte de peito aberto para uma obra coesa, conceitual e sofisticada, cujo segundo volume deverá sair ainda em 2013.

 
Amparado nos estúdios de gravação pelo parceiro-guru Timberland e nos palcos pela super banda The Tennessee Kids – ambos lhe dando o suporte necessário para a execução da sua verve apurada de showman – Timberlake performa, tanto no disco quanto nas apresentações ao vivo, a maturidade que o tempo longe da música parece lhe ter conferido. Algo necessário, já que nesses sete anos fenômenos teens como o xará Bieber surgiram fazendo (sem a mesma competência) muito do que Timberlake já fizera em trabalhos anteriores no N'Sync e na fase solo. Se era hora de voltar dando um passo adiante, ele demonstra estar dando vários, e largos.

O repertório de "20/20" traduz com fidelidade o lado pouco óbvio da volta desse Timberlake maduro à música, a começar pela duração das canções, entre seis e oito minutos em média. As faixas quase sempre condensam sutis intervenções pré-programadas aos arranjos elaborados dos Tennessee Kids, e isso fica claro no eletro-samba Let the Groove Get In. As baladas Pusher Love Girl e Spaceship Coupe moderam no açúcar e apostam na sensualidade fina dos falsetes bem aplicados por Timberlake.

A tônica do álbum, no entanto, está na corrente calcada no synthpop travestido de R&B vintage, tanto em viagens mais intensas como na ótima Tunnel Vision quanto na leve Strawberry Bubblegum – cujo frescor transita entre o Michael Jackson de "Off the Wall" e o Stevie Wonder de "Rocket Love". Os singles de entrada, Suit & Tie (com participação de Jay Z) e Mirrors, talvez sejam o lado mais palatável para o público pouco afeito a compreender a unidade de um disco-conceito, mas podem suscitar a curiosidade para o restante do trabalho.

Como afirmou precisamente o crítico Lucio Ribeiro, a coisa mais fácil e cômoda para Justin Timberlake, neste momento, seria retornar ao mundo da pop music fazendo algo na mesma linha do que ele já fez antes, com a certeza do sucesso confortável e garantido. Através de "20/20", entretanto, ele opta por depositar um capital artístico alto e corajoso no intuito de mudar o rumo da prosa e, por que não?, se jogar em um novo patamar, no qual paira uma constelação de estrelas do porte de Michael Jackson, Madonna e Prince.

"The 20/20 Experience", excelente do início ao fim, não deixa dúvidas de que Timberlake está na trajetória certeira para chegar lá. A música agradece.