domingo, 15 de fevereiro de 2015

Agnaldo Borges, o Borjão (1946-2015)

Perdi meu amado pai Agnaldo Borges em 21 de janeiro de 2015 – o pior de todos os dias da minha vida. Ele tinha 68 anos de idade. Sempre imaginei o pavor que seria passar por uma tragédia dessa magnitude. A dor de viver o momento e o vazio posterior são piores que tudo.

O breve, verdadeiro e emocionante relato biográfico logo abaixo foi escrito pelas mãos de meu tio Paulo Batista Machado, que conviveu com meu pai desde quando pároco em Maricá (RJ), nos anos 1970, até chegar a prefeito de Senhor do Bonfim (BA), na década atual.

As palavras de meu tio dizem muito da jornada riquíssima e única que meu pai teve em vida, ainda que os anos de viagens e passagens antológicas caibam apenas numa extensa biografia. São as inesquecíveis histórias que ouço desde menino em tardes de festas, encontros e conversas.

Histórias que, para mim, jamais terão fim.




AGNALDO BORGES, UM PIONEIRO DA CULTURA E DA MÚSICA NO NORDESTE BRASILEIRO
por Paulo Batista Machado

Agnaldo Borges, ou Borjão, como era chamado carinhosamente entre os artistas e por seus amigos, foi um pioneiro da cultura e da música por esses rincões do nordeste. Falecido no Rio de Janeiro, no último dia 22 de janeiro, deixa saudades e leva consigo esta marca de pioneirismo. Filho de Brejão da Grota, Campo Formoso, sendo os seus pais Januário Amaro de Souza e Maria Ana Borges de Souza, nasceu aos 12 de junho de 1946 de uma família numerosa que migraria para o eixo Rio-São Paulo. Foram ou são seus irmãos Leticia (Leta), AnaMaria, Analita, Eliene, Irenildes, Alípio e Janualdo (vivos) e Manoelito, Reginaldo, Renato e Anailde (falecidos). Contraiu núpcias com Maria José Machado aos 15 de março de 1975 na Igreja dos Padres Capuchinhos, em Feira de Santana, Bahia. Dessa união nasceriam seus dois únicos filhos, Oldon Machado e Polyanna Machado.

Desde adolescente, sentiu pendor para a arte, especialmente para a música, o que o levaria a unir o agradável ao útil, tornando-se empresário de cantores ou artistas ao longo de duas décadas. Agendava shows na Bahia e em estados vizinhos, matando assim a sede e a curiosidade de centenas de pessoas que conheciam os artistas apenas pelo rádio ou pelos serviços de alto-falantes instalados em postes, e ouvidos à calçada, cada noite.

Os shows eram oferecidos em clubes, circos, auditórios e praças públicas, tendo como atrações principais artistas então em evidência como Perla, Jerry Adriane, Wanderley Cardoso, Fernando Mendes, Odair José, Diana, José Augusto, The Fevers, Renato e Seus Blue Caps, Paulo Sérgio, Waldirene, Eduardo Araujo, Silvinha, Jair Rodrigues, Tony Tornado, Cauby Peixoto, Angela Maria, Nelson Gonçalves, Agnaldo Timóteo, Waldick Soriano, Rosemary, Claudia Barroso, Roberto Carlos e Raul Seixas entre outros.

Em uma época de poucas mídias, Agnaldo Borges contratava os artistas, viajava às cidades para agendar os shows e nas datas aprazadas percorria cidades e regiões, em apresentações de muito público, todos interessados em ver de perto os seus ídolos. Temporadas de maior sucesso, temporadas de menor sucesso, e o desafio de lidar com “artistas-estrela”, cada um com suas manias e contradições, este era o seu dia-a-dia que lhe custara problemas e manchetes de jornais e rádio, que ele costumava recordar entre risadas.

Agnaldo Borges lembrava sempre o atrito com Paulo Sérgio, em Juazeiro, que não cumprira cláusulas importantes do contrato, fato difícil a resolver porque o delegado era fã do cantor e não deixava nem Agnaldo explicar o ocorrido e defender os seus direitos; mais marcante foi a atitude de Raul Seixas, que vendera dez shows com pagamento antecipado, no auge de sua carreira, e “fora de si” abandonou o palco no primeiro show programado, em Alagoinhas, escondendo-se em um sitio no recôncavo, provocando prejuízos de grande monta aos clubes que agendaram os referidos shows. Fala também da vinda à Serra da Carnaíba, para apresentar-se na Casa de Shows de Fachinetti, das três primeiras colocadas em um concurso de Misse Brasil, o que chamou a atenção de toda a região.

Com o advento da televisão, e da banalização da imagem dos “ídolos” ou “deuses”, Agnaldo Borges, nosso Borjão, resolveu parar: já não existiam o imaginário, o mistério, que alimentam a curiosidade e o exótico indispensáveis a iniciativas como as que alimentou e operacionalizou durante anos.

Agnaldo Borges foi sem dúvida elo importante no processo de integração do nordeste ao mundo do rádio, da cultura e da música. A nossa história será incompleta se não for contada e recontada a saga de pioneiros em um Brasil que foi engolido pelas emergências da contemporaneidade. E nesse processo de contar, ele será sempre um valente pioneiro. Salve, grande Agnaldo Borges!

3 comentários:

Unknown disse...

Parabéns Oldon, pela a história do seu pai. Realmente ele foi incrível aqui para a Região de Campo Formoso, na Bahia. Trazendo cantores de nomes para a Carnaíba em anos passados. Ele era sobrinho da minha Bisavó, a Dinha dos Godinho, irmã do Avô dele, o Alfredo Godinho. Abraço primo

Gilberto Campo Formoso (74)9141-7609

Unknown disse...

A História deste homem já está posta no livro Recordações que será lançado este ano.

Unknown disse...

Parabéns pela a iniciativa.Penso eu que a nossa rica região em Cultura ainda está muito apagada. E não podemos deixar de lembrar deste nobre da Família Godinho e Borges de Campo Formoso.