segunda-feira, 27 de outubro de 2014
Dilma Rousseff por mais quatro anos, no limite
Dilma Rousseff reelegeu-se no limite.
No limite de votos, com uma frente de apenas 3,5 milhões de sufrágios em um universo total de pouco mais de 105 milhões contabilizados como válidos no pleito deste 26 de outubro de 2014.
No limite da contagem, na medida em que ela virou a disputa voto a voto sobre Aécio Neves apenas às 19h32, após duas horas e meia de tensão no ar, que ainda se estenderia por mais meia hora, e já com 88,9% apurados em todo o país.
No limite da margem de erro, baseando-se na pesquisa de véspera feita pelo Datafolha e que apontou uma vantagem curta a seu favor, de 52% x 48% (a votação cravou exatos 51,64% x 48,36%).
No limite do apoio que ela poderia obter – e que de fato obteve – dos eleitores das regiões Norte e Nordeste, palcos de verdadeiras lavadas em cima do candidato do PSDB nos estados dessas regiões.
Mas, acima de tudo, Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher a ser reeleita presidente do Brasil ao valer-se, no limite, de um discurso que na prática expirou nestas eleições de 2014: o do plebiscito PT x PSDB.
Por que em 2018, quando o PT completará quatro governos e 16 anos consecutivos no poder, o discurso de campanha calcado na comparação entre os mandatos petistas e os oito anos de Fernando Henrique Cardoso não terá qualquer efeito sobre boa parte da população.
O que aconteceu na segunda metade da década de 1990 e no início dos anos 2000 serviu de amparo para o PT trabalhar, com extrema competência, as disputas eleitorais desde 2002, quando chegou pela primeira vez ao poder com a vitória de Lula.
De lá para cá, a polarização entre tucanos e petistas favoreceu sempre a estes últimos em todos os confrontos em nível federal nos quais estiveram. Fruto tanto da junção dos inegáveis avanços sociais e econômicos das suas administrações como também do apuro no marketing político, que tem na figura de João Santana uma espécie de Midas desta seara.
Acontece que, muito provavelmente, esse modelo teve o seu esgotamento nas eleições encerradas ontem, em decorrência de um distanciamento natural que tornará o embate ainda mais obsoleto nos próximos anos.
É inimaginável projetar novamente um quinto choque desses dois partidos, daqui a quatro anos, tendo como pano de fundo o Brasil de 20 anos antes. É tempo demais até para quem viveu – e sofreu – com os problemas daquela realidade distante, em especial os enfrentados no segundo mandato de FHC.
Para a turma mais jovem será ainda pior. Soará complemente anacrônico para a garotada de 20 e poucos anos assistir a debates circunscritos à tese do "no tempo em que os tucanos eram governo...". O efeito prático pode ser semelhante ao de uma aula de história no ensino médio. Sinal dos tempos e do próprio êxito do PT em se manter no poder.
Caberá ao governo reeleito, além de administrar os inúmeros desafios que se apresentam no segundo mandato, traçar novas referências políticas daqui para frente, ainda mais tendo a oposição se fortalecido com a expressiva votação de Aécio Neves e com a ampliação da presença no Congresso Nacional.
Quatro anos é muito tempo na política, para o bem e para o mal. Mas, mesmo sem usar de futurologia, dá para cravar que pela primeira vez em muitos anos o Brasil assistirá em 2018 uma nova plataforma de campanha por parte do governo, diferente de tudo o que se utilizou como estratégia desde que subiu a rampa do Planalto.
Não se sabe o discurso e o modelo que serão utilizados pelo PT ao se apresentar para pleitear mais quatro anos no governo, independentemente do postulante ao cargo. É certo, contudo, que o grande desafio de Dilma Rousseff passa por destravar os nós ao quais o seu primeiro governo esteve preso, criando condições reais para fazer seu o sucessor – ou sucessora.
Sorte a ela e ao Brasil.
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Um comentário:
Bela análise. abs!
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